Oxalá encerra a série sobre orixás, iniciada em dezembro passado. O senhor do branco, origem e síntese de todas as cores, se apresenta aqui de duas formas: Oxaguiã, o jovem que guerreia pela paz, e Oxalufã, o respeitado senhor da criação.
O primeiro dos orixás a ser criado é, nos ritos do candomblé, o último a ser cultuado. Isso porque ele é o responsável por reestabelecer a paz, a aura de estabilidade e de controle sobre os homens, seus filhos e criaturas. É o retorno à harmonia primordial. Ser o primaz do panteão afro dá a Oxalá o absoluto respeito dos demais orixás: em sua homenagem, todos sem exceção carregam no branco a cor mais sagrada do culto, usada em todos os momentos especiais, do nascimento à morte. É também por Oxalá que os adeptos e simpatizantes vestem o branco nas sextas-feiras, seu dia de culto.
O ar que respiramos é domínio de Oxalá, ou seja, ele é imprescindível para a vida. É calmo e discreto, porém essencial. De caráter impecável e comportamento reservado, é ótimo confidente e conselheiro: encontram soluções improváveis depois de “matutarem” sobre o assunto que lhe é demandado. O silêncio denuncia sua maior virtude: a sabedoria. É defensor da causa dos excluídos, especialmente dos portadores de necessidades especiais.
Oxalufã é uma divindade cercada de tabus e restrições. Alguns remetem a mitos que evidenciam a teimosia e prepotência deste orixá. Em um deles, ele sofre com as artimanhas de Exu, o trapaceiro brincalhão, e acaba por macular a brancura de suas vestes com carvão, vinho e azeite de dendê. Muitas vezes, o “peso da idade” se manifesta a partir de um caráter rabugento ou detentor de uma verdade absoluta. No entanto, tudo se desfaz diante de uma necessidade real: os filhos de Oxalá são atenciosos e compassivos, buscando sanar as dificuldades alheias com os frutos de sua inteligência primaz e de sua solidariedade marcante.
No outro pólo de Oxalá encontramos um jovem intenso, obstinado na luta pela paz. Oxaguiã é agitado e, apesar do branco de suas vestes, apresenta pequenos detalhes em azul índigo: a cor belicosa que também é atribuída a Ogum, o deus das guerras. Tal qual, tem na coragem a sua marca prioritária: não se furta de enfrentar as dificuldades da vida, vivencia a superação diante dos problemas.
Oxaguiã representa, dessa forma, o enfrentamento necessário para o progresso da vida. É aquele que nos ensina sobre a importância de medirmos nossos limites como um exercício de ultrapassá-los. Gosta de desafios, torneios e competições. É líder nato e milita por aquilo que sente ser o melhor para o mundo: consegue assim ser um agente social para o progresso da humanidade. Tem uma grande relação com a alimentação do homem, tornando-se essa a sua principal preocupação. Mas vai além do pão: ele busca a qualidade de vida acima de tudo, alimentos para o corpo e para a alma. É um orixá sociável, alegre, divertido e vivaz.
Está sempre disposto e, em geral, de bom humor. Mas é um perigo desafiá-lo: ele é determinado para provar suas convicções e, nessa determinação contundente, pode exceder-se em palavras duras, em críticas severas e devastadoras. Magoado, faz o que for necessário para provar que não perdeu – quem perde é quem fica, acredita. Sua capacidade combativa e autoestima são lições diante das adversidades.