Self

Outras Ondas* – A resposta certa, na hora certa

A fragilidade despertada pelos problemas se relaciona sempre à falta de respostas. Queremos encontrar motivos, buscamos justificativas para aquilo que não conseguimos enfrentar. Muitas vezes, sem nos darmos conta de nossa parte na manutenção do conflito, as causas do conflito se projetam fora de nós, no mundo e nos outros. E ainda nos sentimos extremamente injustiçados quando as tais respostas não nos chegam imediatamente.

O ofício de terapeuta me ensina diariamente a lidar com a angústia provocada por tantas interrogações. Obviamente, questionar é o caminho para a solução, na medida em que ampliam a consciência do que somos, fazemos e desejamos. Mas nem sempre queremos enfrentar o árduo desígnio do amadurecimento. Estaríamos realmente prontos para as respostas que tanto buscamos?

Creio em um princípio de justiça e sabedoria, capaz de nos conduzir ao melhor caminho na existência. Tal força não está somente no mundo exterior, mas também dentro de cada indivíduo. O mundo torna-se apenas um instrumento, um meio pelo qual a resposta se manifesta. E quando estamos prontos para entender, essa resposta se apresenta pelos mais diferentes métodos: cartas de tarot, uma sessão de psicoterapia, as palavras do sacerdote, a cena da novela, uma conversa de estranhos ouvida no almoço…

Certas coincidências evidenciam isso. Esta semana, por exemplo, tive um sonho estranho: meus cabelos estavam ficando grisalhos rapidamente e, por mais que tentasse tingi-los, não conseguia fixar o tom e eles voltavam a ficar brancos. No mesmo dia, me deparo com uma amiga. Ela está toda feliz, com os cabelos mais escuros. Tinha conseguido, enfim, a tinta certa, capaz de cobrir os fios brancos com eficiência. Ao ouvir o relato, percebi que se tratava de um reforço no recado que eu havia recebido na noite anterior: talvez eu estivesse apostando em estratégias erradas para chegar a um determinado objetivo. A tal resposta, que buscava há semanas, estava ali, em meio a uma conversa informal.

Para chegar à resposta, é preciso aprender a lidar com a ansiedade. Antes de qualquer coisa, devemos aceitar que a verdade nos chega sempre no momento certo, quando estamos realmente prontos e dispostos a entendê-la. Em Alegria de Viver (Ed. Campus), o monge tibetano Yongen Mingyur Rinpoche diz que o excesso de expectativas pode turvar nossa visão à solução dos problemas. O remédio para isso passa pela essência dos ensinamentos budistas, que ele reduz em uma frase: “A mente é a fonte de toda experiência e, ao mudar a direção da mente, podemos alterar a qualidade de todas as nossas experiências”. Outra pérola da filosofia budista é priorizar o “para que” em vez do “por que” das situações.

A consciência só se ilumina quando estamos atentos e, principalmente, dispostos a mudar. É entender que a resposta pode não ser exatamente a que buscamos – mas o que precisamos receber. Com humildade e coragem, afastamos a cegueira diante da fantasia e alcançamos o entendimento da realidade. Assim dizem os evangelhos de Lucas e Mateus: “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á”. Não existe um método mais eficiente, nem a melhor hora para esse despertar. Os únicos pressupostos são a vontade e o desprendimento para aprender. A resposta sempre está pronta para nós. Nós, porém, nem sempre estamos prontos para ela.

* A coluna Outras Ondas é publicada aos domingos no blog da Revista do Correio: www.correiobraziliense.com.br

nivas gallo