Self

Psique: O baile de máscaras – o outro te enxerga como você se mostra

crédito: Metrópoles

Beautiful redhead girl with long hair and blue eyes looking at herself in a broken mirror

 

Se o ano começa depois do carnaval, hoje é dia de recomeçar. E se todo recomeço é momento de novas escolhas, por que não aproveitarmos o momento para pensar sobre os papeis que nos definem no mundo? Talvez os que você mais usa já não condigam com aquilo que busca, daqui para frente.

Somos todos povoados por incertezas, angústias, fragilidades. Está na base da condição humana. E seria insuportável se lidássemos o tempo inteiro com o olhar do outro mirando tais vulnerabilidades. Isso nos motiva a buscar realçar determinados traços, que julgamos mais interessantes, para priorizá-los na relação com o outro. Há um esforço para apresentarmos o melhor espetáculo que podemos, na expectativa de não sermos reconhecidos por aquilo que buscamos negar.

Persona foi o termo dado por Jung para falar desta instância da nossa psique. Ele tomou o termo das máscaras dos teatros antigos. Daquelas que eram suficientes para que soubéssemos o que esperar de cada personagem, seja do seu temperamento ou do seu caráter.

Baile de máscaras
De fato, não conseguimos viver sem essa estrutura. Até quem se defende pelo argumento da sinceridade ou da autenticidade carrega, em si, uma imagem que impressiona o outro. Para estes, a persona é a do “autêntico”. Até estes participam do mesmo baile de máscaras. Diferentão é quem acha que não tem nada para esconder.

Viver esses papéis não é o fator problemático. O que merece atenção é a energia que dedicamos para que eles cresçam e se mantenham. Muitas vezes, hipertrofiamos um traço daquilo que somos em detrimento das demais características que carregamos. Ficamos chatos, monotemáticos, caricaturais.

O preço é alto: na medida em que me defino com ênfase de uma determinada forma, passo a ser reconhecido prioritariamente por esse papel. Encarnamos uma função coletiva: a mãezona, o correto, a sedutora, o perspicaz, a mestra… Todos carecemos de alguém que exerça algum desses papéis em certos momentos da vida. E recorremos, sem pestanejar, a quem os encarne.

Viver para o mundo
Ou seja, a persona nos coloca à disposição do mundo. Essa é a contrapartida exigida pela proteção que ela proporciona. Se temos dificuldades para alternar entre as diferentes máscaras disponíveis, a cobrança do mundo tende a ser maior. E também a nossa frustração: “não sou só isso, não respeitam minha individualidade”. A demanda do mundo não cessa, seja qual for o papel que eu resolva assumir.

Administrar as inevitáveis personas faz parte das tarefas de quem quer tornar-se indivíduo. Reconhecê-las é o primeiro passo. E, para isso, é bom ouvir o que o outro tem a dizer sobre você. É claro que nem tudo que será dito corresponde exatamente àquilo que você é. Mas trará pistas importantes a percorrer.

Coerência
Afinal, muitas vezes, estamos há tanto tempo com uma determinada máscara que esquecemos o formato que ela tem. Olhe-se no espelho – em outras palavras, reflita sobre você: tome certa distância e encare seu espectro. Esse exercício pode ser mais difícil, especialmente se você não se permitiu cumprir o primeiro passo.

É uma bobagem achar que a opinião do outro sobre mim não tem valor. Ela tem, e é importantíssima para que eu possa me conhecer. Favor não confundir isso com “ser o que o outro quer que eu seja”.
Tudo isso desperta a importância de avaliar as roupagens que nos vestem quando estamos diante do outro. Até porque uma persona pode abrir ou fechar portas para aquilo que buscamos realizar. Reciclar tais papéis é validar-se de forma coerente: encontrar a máscara que me represente naquilo que sou neste momento, e não no que fui.
nivas gallo