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Psique: “Manda nudes” é o novo paradigma nas relações. E o maior risco

Crédito: iStock/Metrópoles

nudes

Há quem diga que está tudo de pernas para o ar. Outros defendem que o futuro chegou e que nos resta a adaptação. Não estou aqui para definir quem está com a razão. Mas uma coisa é fato: o povo anda meio perdido, um tanto equivocado, quando o assunto é relação a dois.

A impressão que dá é que, de uma hora para outra, ganhamos uma caixa enorme, lotada de ferramentas. Mas não temos habilidades para operá-las. E não há quem nos ensine, pois, até mesmo seus inventores se esqueceram de criar um manual de instrução.

Assim surgem inúmeras redes sociais. Hipoteticamente, instrumentos para unir pessoas com interesses comuns. Na prática, espaço para exposição de valores que nem sabemos direito se temos. É como se a pracinha da cidade do interior, onde os encontros se davam, tivesse crescido. Todos quisessem disputar momentos no coreto central. Para que? Na maioria das vezes, nem eles mesmos sabem.

Pornografia doméstica
Os primeiros aplicativos de relacionamentos eram bem estratificados. Os gays, por exemplo, foram pioneiros nessa linguagem. E encontraram um território para criar novos vínculos e, principalmente, liberar fantasias. Na maioria das vezes, vivenciadas no anonimato.

Agora, a coisa está democratizada e na sala de estar. Solteiros (e também os não tão solteiros assim) mantêm aplicativos similares instalados em seus smartphones. Desses, com câmera frontal e traseira, de resolução cirúrgica. E daí brota a tentação. “Manda nudes!” A frase ficou popular. A frase, não. O gesto.

São desesperadoras as histórias de pessoas que confiam a privacidade de seu corpo a quem parece ser uma boa opção de par. E, o mais incrível: quase sempre, as vítimas de exposição de intimidade visavam encontros meramente sexuais. Elas buscavam relacionamentos duráveis. Namorar, casar, constituir família.

Templo profanado
Não é uma questão de puritanismo e sim um alerta quanto ao despreparo. Poucos têm estrutura para lidar com as consequências de terem sua sexualidade devassada, comentada, escrachada. Esse é o grande risco quando se cede ao pedido de uma foto de nu.

Além disso, esquece-se que o corpo é a principal referência de quem somos. Antes de qualquer outro juízo de valor ou intenção, o mundo nos interpreta a partir da imagem que temos. É tacanho, mas funciona assim. Somos todos preconceituosos – a questão é intrínseca à natureza da psique, que se orienta com base em experiências anteriores, organizadas em complexos.

Bote nessa conta o véu de hipocrisia que nos envolve. O nudes da artista é assunto de bar, o nosso é segredo profundo. O recato que temos nos contextos sociais não corresponde aos desejos que guardamos nos porões da alma. A sexualidade ainda é um tabu, e esse paradigma parece estar longe de ser superado. Temos de lembrar que a curiosidade é contagiosa e geralmente nos envenena.

Falsa intimidade
Deter o registro da imagem desnuda do outro nos confere uma espécie de poder sobre ele. Inconscientemente, é justamente esse acordo tácito que se firma ao mandar um nudes. “Confio a você o meu segredo, meu bem mais precioso” – mal sabendo a quem entrega algo tão sensível. Querem, com isso, forçar uma intimidade que, na verdade, não está ligada ao corpo e sim à convivência.

Obviamente, há também quem não veja problema nenhum nisso. Nesses, poucos são os ditos bem-resolvidos (aqueles que naturalizam a sexualidade a ponto de não se deixarem levar pelo tabu coletivo). A maior parte é de quem perdeu as referências do que é sagrado em si, do autorrespeito. Despem-se de roupas, assim como de qualquer outro valor. Mas vale lembrar: na pracinha do interior, poucos ousavam tirar a roupa em público. Só os loucos.

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