Crédito: Metrópoles/iStock
Dizem por aí que a melhor forma de conhecer uma pessoa é dando-lhe poder. Tenho uma sugestão para um exercício ainda mais completo: dê o poder, e depois retire. A forma como reagimos ao sucesso é tão importante como a adotada no fracasso, especialmente na forma como lidamos com os demais.
Jung dizia que o poder era a verdadeira antítese do amor. Ele é um valor subjetivo, cada pessoa interpreta o que a faz “poderosa” a partir do repertório de vida que carrega. Idealiza, com ele, experimentar a plenitude e silenciar as próprias misérias. Um engano narcisista.
Poder pressupõe hierarquia, privilégio e detrimento, oferta versus escassez. Ser poderoso só se justifica diante da incapacidade do outro para determinado feito. Ele não permite a equiparação com nosso semelhante. Alguém padece enquanto alguém goza. E, dessa diferença que se explicita, criam-se novas dinâmicas de vínculo, geralmente perniciosas.
Soberba, mesquinharia, abuso, usurpação, inveja, ganância, imposição, chantagem, dependência, ciúme, vaidade, corrupção, ameaça, subjugo, menosprezo, humilhação, cobiça, violência, desrespeito, conchavo, intriga, traição.
Esses são alguns dos venenos que brotam dessa dinâmica e, avalie, deles deriva grande parte dos males do mundo, especialmente aqueles que nos desumanizam. Podem contaminar relações das mais distintas naturezas. Em outros casos, o veneno é o fundamento: o vínculo só sobrevive enquanto o poder é o regente.
Por esta razão, quem não ambiciona o poder é chamado de humilde. Adjetivo que deriva de húmus, a terra. Algo que só encontramos quando temos os pés no chão, e quando nele encontramos a solidez necessária para suportar aquilo que somos. E, especialmente, aquilo que nunca conseguiremos ser.