Self

Palestra: Sincronicidade

Um registro da palestra Sincronicidade, que ministrei a convite do Instituto Quíron (Brasília/DF), no dia 16 de abril de 16. Após a apresentação do tema, fizemos um debate sobre as coincidências significativas e o impacto que geram na psique e na vida prática.

 

 

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Psique: A culpa é da mãe e do pai. Mas a responsabilidade de viver bem é sua

Crédito: Metrópoles/iStock

Funny family feet under the blanket

Já tive clientes que desistiram do processo da análise quando começaram a questionar figuras, até então, maravilhosas. Não queriam apagar a imagem heroica, cuidadosamente lapidada, que atribuíam aos pais. Sentiam-se culpados, pecadores. Também atendi pessoas que estavam no extremo oposto: lastimaram, por anos a fio, a família à qual pertencem. Atribuíam todo o insucesso que viviam àquilo que receberam em casa.

Com ambos os casos, agi como advogado do diabo. Ou seja, como analista, tomo partido de quem é acusado. E assim ajudei a destronar mães e pais perfeitos – e mostrar o quão são humanamente falhos, e, até mesmo, fieis contribuintes para as queixas dos meus clientes.

Em outros casos, pude mostrar como as queixas depositadas sobre pais soavam como uma autoindulgência rasteira, uma forma de transferir responsabilidades como estratégia infantil de evitar o compromisso com a vida.

O meu lugar em casa
De fato, as relações parentais têm grande influência na definição daquilo que somos. Aos que não nutrem a reflexão, será determinante: tenderemos a agir em correspondência direta aos scripts ditados pela família. A vida será apenas uma tentativa de atender os papeis e expectativas que nos são projetados, ou então de fugir dessas atribuições.

A companhia dos pais não cessará nem mesmo após a morte dos mesmos. O olhar repressor, a queixa manipuladora, as medidas de boas maneiras, o adjetivo incapacitante… Quem está sob esse enfado nunca está só: é como se, a cada passo, estivesse em constante avaliação dessas imagens parentais. Dita quem devemos ser, o caráter que devemos assumir, quais frustrações devemos reparar. É uma verdadeira maldição.

É libertador entender que nem toda herança que nos é oferecida precisa ser validada. Os pais tendem a transferir aos filhos aquilo que gostariam de ter vivido, mas não puderam. É uma pena, mas não somos os responsáveis pelas escolhas que fizeram, nem pelas circunstâncias que tiveram de enfrentar. A eles, uma constatação: a vida é limitada – e essa lei estava escrita antes mesmo do nascimento dos nossos ancestrais mais remotos. Conformemo-nos com isso.

Desenvolva-se
Cada ser humano tem pleno direito à individualidade. Isso significa que a ele é conferida a chance de desfrutar daquilo que é em sua essência. Seja isso semelhante ou contraditório ao que foi esperado pelos seus pais. Nem sempre isso é possível, justamente porque nenhum escravo é capaz de servir a dois senhores. Nesse caso, privilegie a alma – a sua, não a deles.

Desenvolver a consciência tem como pressuposto aprender a diferenciar-se do meio no qual está inserido. Em geral, a família é o ponto de partida. Não para transformar esse exercício em um muro das lamentações – acho improdutivo e enfadonho. Mas para que possamos perceber que a influência que nos foi transferida deverá ser encarada como uma referência. E que posso angariar outras referências ao longo da vida. Muitas vezes, até bem mais saudáveis que as originais.

Assim sendo, não precisamos encontrar justificativas e culpados para nossas angústias e limitações. Nossos pais são, e foram, somente aquilo que conseguiram ser.Assim como nós, diante da vida e dos nossos filhos. Amadurecer depende de uma postura reverente à nossa origem, mas assumida com desprendimento. Se permanecermos ancorados ali, jamais conseguiremos seguir em frente, traçar nosso próprio caminho.

Psique: Um homem que se apropria de Deus não conhece Deus

Crédito: Metrópoles/iStock

Hand reaching for the  sky with dark stormy clouds

Quando o homem percebeu que a realidade era grande demais para sua compreensão, ele precisou criar uma imagem superior, algo que conseguisse abarcar tudo aquilo que fugia a sua compreensão. Alguém que validasse suas principais angústias: a origem, o sentido da vida e a solução à morte.

Sobre esse ser, depositaria esperanças e expectativas. Detinha sobre essa criatura a postura submissa, de filho – como se fosse uma criação daquilo que criou. E, nesse papel, encontrou nesse ente um refúgio para seus desconfortos e queixas, o balcão para requerer soluções aos tropeços e aos problemas que arrumava na vida.

O poder atribuído a esta criatura era especialmente verificado cada vez que o homem alcançava a saciedade de seus desejos. Isso fez do homem um vaidoso, que passou a enxergar-se como o filho predileto. Por mérito, é claro. Assim nasceu Deus.

“Meu Deus”
Esse pressuposto nos leva a compreender que, quanto mais vaidoso e autocentrado, maior o sentimento de apropriação que eu tenho sobre o Deus que cultuo. Nas horas aflitas, “meu Deus” surge como agente para uma solução imediata. Nos conflitos, valido minhas verdades pelo que “meu Deus” acha justo e bom. Se alguma ameaça me coloca inseguro, convoco o testemunho de “meu Deus”. Alcanço meus propósitos pois tenho “meu Deus” a meu lado.

O mecanismo é semelhante para que criemos o ser contrário, aquele que faz a antítese de Deus. Ou seja: esse antideus é o que atrapalha o meu caminho, o que impede os meus planos, o que gera dúvida sobre minhas ideias, o que não exalta meus feitos etc..

Quem comunga de ideais semelhantes aos meus, é um irmão diante de Deus. Quem está contra, cultua o contrário e é um inimigo a ser banido. Ou um ignorante, que merece conhecer a verdade. Qual verdade? “A única, oras!” – quem pensa assim tem uma enorme dificuldade de conceber outros pontos de vista.

Egoísmo dissimulado
Tudo isso é incongruente, quando pensamos na imagem de Deus-criador, que perpassa a origem de todas as crenças. Nesse olhar original, o divino é o que congrega, o que unifica, o que traduz a união para a constituição do todo. Lançar mão do nome de Deus para contemplar minha vontade só tem um nome: egoísmo, sendo ele praticado por ignorância ou maledicência.

Falar em nome de Deus é querer se colocar no lugar dele, é sentir-se autorizado a determinar uma realidade que, quase sempre, vai além dos limites da minha individualidade. A chance de erro é grande: de onde está, Deus é capaz de enxergar as múltiplas possibilidades de uma mesma situação. De onde estou, esforço-me para discernir algo, a partir da minha miopia existencial.

Deus é amor
Ou então, usamos o nome de Deus para nos revestir de quê de superioridade. Estamos aí envolvidos pelo poder, e não pelo amor – sentimento de compreensão e aceitação que, de fato, poucos conhecem. Usar o divino para polarizar um bem e um mal é a artimanha mestra para fazer valer um ego fraco, doente ou corrompido.

Repito: não venho aqui criticar a crença de ninguém. Trago, apenas, argumentos sobre o papel divinal na trajetória do homem. Da sua origem, ao seu mau uso – o oportunismo e a validação da nossa ignorância. Nós que devemos ser submissos a Deus, e não o contrário.

Até hoje, não tive contato com nenhuma crença que dissociasse a inteligência do principal talento da divindade. Assim sendo, se você crê em Deus, seja ele qual for, considere o “pensar” como uma boa forma de cultuá-lo.

Psique: O autoengano é o mecanismo de defesa que nos coloca vulneráveis

Crédito: Metrópoles/iStock

Micro Photo of a Fly

Foi um dia desses que me bateu uma onda estranha. Por um momento, achei que tinha crescido subitamente. Estava no supermercado e me dei conta disso ao pegar uma embalagem de sabão, pareceu menor que o de sempre. Olhei para o carrinho e vi que a embalagem do biscoito também cabia mais confortavelmente em minha mão.

Eu não estava maior, só tinha sido levemente enganado pelos fabricantes. Vinte gramas a menos não fariam diferença. Aquele engano aparentemente inofensivo, bem semelhante aos que cometemos diariamente nas mentiras brandas ou nas omissões em nome de um bem-estar. Seja na relação com o outro, ou comigo mesmo.

De fato, a realidade é conduzida pelas nossas prioridades. O tempo inteiro. Buscamos encontrar uma maneira que julgamos mais adequada para interpretar nosso mundo. E isso sempre acaba por tapear as demais perspectivas daquela determinada situação.

Olhos de mosca
Não falo aqui do engano por maledicência, daquele que fazemos com um intuito claro de lesar ninguém. Refiro-me especialmente ao autoengano. Uma espécie de estratégia de sobrevivência, desenvolvida pelo ego, para manter-se minimamente confortável no comando da consciência. Para ele, seria uma tormenta se tivéssemos múltiplas impressões simultâneas da mesma questão.

Você sabe como as moscas enxergam? Seus grandes olhos têm, cada um, cerca de 4 mil facetas, que percebem tudo que está em redor. Veem até mesmo o que está atrás de si. Se, metaforicamente, tivéssemos uma capacidade semelhante de acessar o mundo que nos cerca, seria uma perturbação grande demais para ser tolerada.

O ego tende a buscar uma crença para aportar. Mesmo que ela se mostre limitada demais, ou até mesmo ilusória, será melhor do que lidar com a indeterminação, o imponderável, o intangível, o misterioso. A consciência precisa de âncoras para preservar-se desse desconforto.

Autoengano
E nisso damos pequenos truques para deixar a realidade mais palatável. Ouvimos, vemos e interpretamos a partir de uma certa conveniência. Restringimos nosso olhar para evitar o sofrimento. Não compreendemos, no entanto, que o autoengano tem efeito contraditório. É um mecanismo de defesa que nos coloca em vulnerabilidade. Afinal, as faces ignoradas da realidade tendem a aparecer em algum momento. Geralmente, quando não estamos preparados para elas.

Uma vez que não há como escapar dessa armadilha, resta-nos apenas vigiar contra essa visão seletiva. O outro poderá nos auxiliar bastante nesse processo. Ele nos lembrará sempre daquilo que estiver aquém da nossa capacidade de visão. Olhe especialmente para quem te incomoda, pois será aí que mais poderá aprender sobre si – assim ensinou o velho Jung.

Quando for possível conter o autoengano, faça sem hesitar. Cumpra seus compromissos. Escute as emoções que te atravessam e perceba como elas transformam seus pensamentos e atitudes. Preste atenção nas palavras que diz. Busque harmonizar o que acredita com o que diz e com o que faz. A ampliação da consciência parte desse exercício de atenção plena. Nenhuma verdade, por mais dolorosa que seja, pode ser pior que a ilusão.

EBC: Nudes, revenge porn e os limites da privacidade na web

Dei uma entrevista para o programa Ponto Com Ponto BR, da rede EBC, sobre o compartilhamento de imagens íntimas. Falo sobre o impacto gerado nas relações e no psiquismo. A entrevista foi ao ar no dia 11 de abril de 16.

Para acessar o link do programa completo, clique aqui.

Ou então dê um play para ouvir o trecho da minha participação.

 

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