Fonte: Metrópoles
No mundo dos negócios, a força de um contrato dura enquanto ambas as partes se mantêm comprometidas com o que foi acordado. No caso de uma mudança de cenário, ou de prioridades, todos são chamados a reavaliar as cláusulas. Assim não fica caro para ninguém.
Nas dinâmicas relacionais, funcionaria direitinho se todos pensassem assim. Quisera eu poder desenvolver uma espécie de vacina polivalente para combater os males das relações com o outro: o pressuposto, o subentendido, a dissimulação e a esperança. Fica aqui a sugestão para os laboratórios. A terrível lista inviabiliza qualquer relação honesta, sendo ela de qual tipo for.
Quando precisa defender algo, seja claro, explícito, literal, objetivo e direto. Não verse respostas, a não ser que queira deixar margem a uma interpretação duvidosa sobre as suas verdadeiras intenções. O subentendido não ajuda ninguém, e é quase sempre sucedido pelo desentendimento, pela discórdia.
Da mesma forma, é um fio de navalha que separa a boa argumentação da ironia ou da dissimulação. Não precisamos ser prepotentes para defender qualquer verdade. Simplifique e guarde a sua inteligência para aquilo que for verdadeiramente útil.
O pior ficou para o final: a esperança. Não é à toa que, no mito grego de Pandora, ela morava na caixa que guardava todas as mazelas prometidas à humanidade. Não há nada mais frustrante nas relações que esperar pela mudança do outro. E isso só acontecerá a depender da vontade e da capacidade dele.
Só se muda a si
Pense bem. Sofremos um bocado para mudar uma característica que nos incomoda, e nem sempre conseguimos o resultado desejado. Beira à insanidade julgar-se capaz de mudar alguém. Quem é você para definir o em quais moldes mais adequados? E quem disse que esse é o melhor formato que ele tem para assumir? O nome bonito que inventaram para descrever essa fantasia perversa é egoísmo.
Muitos ainda a confundem com a perseverança – e é bem diferente. Esperar é um gesto passivo. Convenhamos, a passividade nunca foi a melhor estratégia para transformações.
Isso aqui não é o registro da descrença na mudança, até porque, se assim fosse, eu deveria mudar de profissão. É muito mais um alerta. Afinal, a vida não fica em suspenso. Enquanto esperamos alguma mudança, desperdiçamos tempo e energia vital. E esses são os insumos imprescindíveis para que alcancemos realizações e qualidade de vida.
A coerência das relações é um retrato fiel da coerência que temos conosco. No contato com os demais, acessamos nossos conflitos. Vemos como somos contraditórios, inconstantes, e isso incomoda. Por isso, tendemos a transferir culpas e responsabilidades. Ter atenção sobre essa complexidade é saber aproveitar uma rica oportunidade: convidar nosso semelhante para, juntos, pentearmos a trama embaraçada dos nossos afetos.