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Psique: Você não está blindado de sentir inveja, nem de ser invejado

Fonte: Metrópoles

inveja

Esse texto demorou dois meses para ficar pronto. Não queria construí-lo tomado pelos afetos. Ele é fruto da mais vil das emoções humanas: a inveja. As palavras brotam aqui por empatia, depois de me ver envolto numa vilania digna de novela. Por isso fui cauteloso – quis promover alguma reflexão, em vez de simplesmente expurgar o mal que me contaminava.

Invejar é querer destruir o bem que o outro alcançou, simplesmente por não ter capacidade de fazer o mesmo. Invejoso é quem, em vez de buscar frutificar algum talento, ambiciona o que ao outro pertence – seja para tomar para si, ou para destruir, impedindo que o outro usufrua das conquistas. Ou seja, tal atributo só se manifesta na incompetência, na incapacidade. É um estado de espírito pertinente ao perdedor.

Fica difícil acreditar que uma pessoa possa ser tão desgraçada, a ponto de não conseguir suportar a felicidade alheia: seja pelas realizações materiais ou emocionais, ou somente pela impressão de bem estar que o outro inspira desfrutar.

A fonte do mal
O veneno da inveja alcança diferentes gradações, que vão do desdém às ações práticas com o intuito de destruir o outro. Seja declarada ou velada, ela é o fel que envenena o mundo. Certamente, é a principal ferramenta do mal – a força personificada da destruição, da desarticulação, da imposição. Não é por acaso que a inveja de Lúcifer é tida como a gênese do mal, na mística judaico-cristã. Como os demais afetos, ela segue além do tempo, das culturas e da vontade dos homens.

E, mesmo sendo reconhecida por todo o seu poder nocivo, não conseguimos banir do nosso repertório. Há duas razões básicas para que seja assim. Primeiro, porque somos seres limitados – e inconformados com nossas limitações. Temos uma natureza descontente.

Isso nos inspira a querer completar, a qualquer custo, as lacunas que identificamos em nós mesmos. Banir o exemplo de sucesso é a estratégia que o invejoso encontra para minimizar próprio fracasso.

Querer o que não é meu
Além disso, somos conduzidos por uma competitividade latente, instintiva. E isso faz com que o bem alcançado pelo outro se transforme em algo desejável. A grama do vizinho só é mais verde porque, a uma certa distância, não percebemos as pragas que a infestam.

Fazemos da felicidade do outro uma inspiração para a nossa, sem sabermos ao certo o que cobiçamos. São tendências francamente humanas. Assim sendo, nem adianta assumir aquele discurso de “sou invejado, apesar de não invejar nada de ninguém”. É confortável acreditarmos numa superioridade, mas não se engane: você não está blindado de sentir inveja, nem de ser invejado.
É até mais interessante sermos honestos com o olhar que temos sobre as posses do outro. Se invejar é inevitável, nossa atenção deve se ater sobre a forma como lidaremos com tal sentimento – nisso, o caráter determinará a atitude, e separará aqueles que cultivam o mal e os que tentam neutralizá-lo.

Sal grosso emocional
Só não percamos da mente que, cada vez que a inveja nos atravessa, cegamo-nos diante daquilo que nos sobra, para elencar aquilo que nos faz falta. Isso é tacanho e injusto, consigo e com o outro. A inveja é o maior atraso que você pode atrair para sua vida – ela impede que o seu melhor possa fluir.

E, ao perceber o olhão gordo do outro sobre você, nada de se apavorar. Para neutralizá-la, uma receita mais barata que sal grosso: concentre seus talentos, aprimore-os, afaste o fator sorte da sua receita de sucesso – não deixe uma fresta na porta para que o mal invada. Ria, em vez de se deixar abater. Como ensinou Wilde, viver bem é a melhor vingança. E também o melhor antídoto para o veneno do outro.

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Psique: O baile de máscaras – o outro te enxerga como você se mostra

crédito: Metrópoles

Beautiful redhead girl with long hair and blue eyes looking at herself in a broken mirror

 

Se o ano começa depois do carnaval, hoje é dia de recomeçar. E se todo recomeço é momento de novas escolhas, por que não aproveitarmos o momento para pensar sobre os papeis que nos definem no mundo? Talvez os que você mais usa já não condigam com aquilo que busca, daqui para frente.

Somos todos povoados por incertezas, angústias, fragilidades. Está na base da condição humana. E seria insuportável se lidássemos o tempo inteiro com o olhar do outro mirando tais vulnerabilidades. Isso nos motiva a buscar realçar determinados traços, que julgamos mais interessantes, para priorizá-los na relação com o outro. Há um esforço para apresentarmos o melhor espetáculo que podemos, na expectativa de não sermos reconhecidos por aquilo que buscamos negar.

Persona foi o termo dado por Jung para falar desta instância da nossa psique. Ele tomou o termo das máscaras dos teatros antigos. Daquelas que eram suficientes para que soubéssemos o que esperar de cada personagem, seja do seu temperamento ou do seu caráter.

Baile de máscaras
De fato, não conseguimos viver sem essa estrutura. Até quem se defende pelo argumento da sinceridade ou da autenticidade carrega, em si, uma imagem que impressiona o outro. Para estes, a persona é a do “autêntico”. Até estes participam do mesmo baile de máscaras. Diferentão é quem acha que não tem nada para esconder.

Viver esses papéis não é o fator problemático. O que merece atenção é a energia que dedicamos para que eles cresçam e se mantenham. Muitas vezes, hipertrofiamos um traço daquilo que somos em detrimento das demais características que carregamos. Ficamos chatos, monotemáticos, caricaturais.

O preço é alto: na medida em que me defino com ênfase de uma determinada forma, passo a ser reconhecido prioritariamente por esse papel. Encarnamos uma função coletiva: a mãezona, o correto, a sedutora, o perspicaz, a mestra… Todos carecemos de alguém que exerça algum desses papéis em certos momentos da vida. E recorremos, sem pestanejar, a quem os encarne.

Viver para o mundo
Ou seja, a persona nos coloca à disposição do mundo. Essa é a contrapartida exigida pela proteção que ela proporciona. Se temos dificuldades para alternar entre as diferentes máscaras disponíveis, a cobrança do mundo tende a ser maior. E também a nossa frustração: “não sou só isso, não respeitam minha individualidade”. A demanda do mundo não cessa, seja qual for o papel que eu resolva assumir.

Administrar as inevitáveis personas faz parte das tarefas de quem quer tornar-se indivíduo. Reconhecê-las é o primeiro passo. E, para isso, é bom ouvir o que o outro tem a dizer sobre você. É claro que nem tudo que será dito corresponde exatamente àquilo que você é. Mas trará pistas importantes a percorrer.

Coerência
Afinal, muitas vezes, estamos há tanto tempo com uma determinada máscara que esquecemos o formato que ela tem. Olhe-se no espelho – em outras palavras, reflita sobre você: tome certa distância e encare seu espectro. Esse exercício pode ser mais difícil, especialmente se você não se permitiu cumprir o primeiro passo.

É uma bobagem achar que a opinião do outro sobre mim não tem valor. Ela tem, e é importantíssima para que eu possa me conhecer. Favor não confundir isso com “ser o que o outro quer que eu seja”.
Tudo isso desperta a importância de avaliar as roupagens que nos vestem quando estamos diante do outro. Até porque uma persona pode abrir ou fechar portas para aquilo que buscamos realizar. Reciclar tais papéis é validar-se de forma coerente: encontrar a máscara que me represente naquilo que sou neste momento, e não no que fui.

Psique: Estamos muito deslumbrados com esse negócio de ostentação

crédito: Metrópoles

Golden rings collection

Uma rosca caseira, vendida por centavos, numa feira popular. Foi no sonho de uma paciente que a imagem apareceu. E, quando olhamos bem para ela, percebemos juntos o quanto dificultamos a vida, na medida em que buscamos incrementar demais aquilo que é simples. Para minha cliente, seria um luxo poder degustar novamente aquele sabor, naquele momento. Encantado pela descrição, luxuoso para mim seria experimentá-lo.

A verdadeira riqueza não está somente no glamour vendido pelas revistas de celebridades – quase nunca custeados pelas próprias, e sim por patrocinadores, interessados fisgar incautos, seduzidos pela imagem. Estamos muito deslumbrados com esse negócio de ostentação, já ficou até feio. Da mesma forma, não cremos mais no que é feito para durar, acostumamo-nos que tudo é substituível. Do celular às pessoas.

 

Catálogos de bem estar
O mais assustador é a facilidade com que tudo isso se dá. Quando, lá pelo fim dos anos 90, a Organização Mundial de Saúde previu que a depressão seria a doença do século 21. Concordo com a gravidade do tema, mas parcialmente. Talvez a OMS não vislumbrassse nesse levantamento a popularização dos smartphones e seus recheios, especialmente as redes sociais.

Quando esse fator entra na conta, a ansiedade cresce bem nesse páreo. E os transtornos de ansiedade podem alavancar as estatísticas de depressão. A compulsão engrossa esse caldo. Assim como ocorre na internet, na psique tudo se conecta. Doenças, inclusive.

Afinal, temos nos instagrans, facebooks e afins um catálogo daquilo que representa bem estar – e para mostrar como, apesar do que fizermos, estamos distantes dele. Esquecemo-nos, somente, que representações são correspondências. A imagem não é o deus encarnado, é apenas uma maneira de ter dele uma referência.

Quando olhamos para o mundo virtual, os personagens que observamos (e muitas vezes cremos ser ou existir) estão sempre cercados por uma série de conquistas e demandas-a-conquistar.

A casa linda, a viagem incrível, a roupa exclusiva, o corpo desejável, a relação completa, o filho esperto, a ideia sagaz, o humor cativante. Difícil mesmo é conseguir conciliar imagem e ação, expectativas e realizações. Cedemos nossa imagem a um personagem que aponta o dedo para o que nos deprecia. Crueldade maior não há.

Saber desfrutar
Viver bem se confunde com aquilo que temos angariado. E que, muitas vezes, sequer conseguimos desfrutar. Não por uma limitação cognitiva, absolutamente. Mas por não ter envolvimento, por falta de identificação ou correspondência. Não tem um afeto maior e genuíno que ligue a pessoa a tal objeto, cenário ou situação. A não ser o sentimento de pertencimento a um ideal: “com isso, serei feliz”. Ah, a velha ideia da felicidade, o motor que impulsiona tantos sistemas perniciosos…

Quando focamos naquilo que faz falta, tomamos distância das noções de contentamento e de satisfação. Não vemos que a rosca da infância é o sabor que precisamos. Não sabemos a hora de parar de ceder aos estímulos. O cerne da qualidade de vida é ter tempo para desfrutar o que alcançamos. Tempo = vida. A ansiedade faz com que o silêncio e as prateleiras vazias sejam perturbadores. Não ter exigência a cumprir se confunde com a falta de um sentido para existir.

Nada disso vem como uma apologia contrária aos traços do mundo contemporâneo, como as modernidades virtuais. Igualmente, longe de mim querer condenar os luxos. Também tenho os meus, e deles não abro mão – “que o supérfluo nunca nos falte”, como ensina Martinho da Vila. O samba, por exemplo, é um dos meus luxos. Alerto apenas para a coerência que busco ter. Não por preciosismo ou pedantismo, mas por economia: a vida é muito cara para a desperdiçarmos com luxos banais.

nivas gallo