Self

Correio Braziliense – Revista: Ninguém é normal na Terra do Nunca…

Em novembro de 2011, escrevi uma reportagem sobre o livro O lobo mau no divã para a Revista do Correio. A publicação relaciona, de forma divertida, personagens de histórias infantis com transtornos e inadequações psíquicos. O tema despertou recentemente a atenção da equipe da emissora universitária de televisão MixTV. Fui convidado para uma entrevista sobre a influência de tais personagens sobre a formação da psique das crianças. O programa vai ao ar no dia 4, às 7h30 (NET, canal 22 (DF), 13 (SP) e 15 (RJ)). Por enquanto, reproduzo parte da reportagem publicada no Correio Braziliense.

Ninguém é normal na Terra do Nunca…

Quarta-feira à tarde, consultório psiquiátrico, sala de espera lotada. Enquanto Peter Pan tenta roubar a atenção de todos os presentes, o Homem de Lata permanece inerte em frente à televisão, como quem olha e não vê. Em outro canto, a madrasta da Branca de Neve mastiga chicletes incessantemente e, vez por outra, dá uma olhadela num espelhinho para conferir a maquiagem. A porta se abre e o Burrinho Ió deixa o consultório todo satisfeito, com a sonhada alta. Depois que passou a tomar um remedinho por dia, melhorou a relação com o Ursinho Pooh, Tigrão e companhia. Já pode administrar os problemas sem auxílio terapêutico.

Esse não é mais um conto de fadas, mas poderia ser. O vislumbre de analisar os personagens infantis à luz da psicologia não é novo. Mas, pela primeira vez, foi divulgado um relatório completo sobre as patologias de vários deles. Em O lobo mau no divã (Ed. Best Seller), a pesquisadora Laura James conta, com bom humor, como a psicoterapia pode ser útil para sanar os distúrbios psicológicos e psiquiátricos de vários deles. E, surpreenda-se: em alguns casos, os atributos que elevam alguns ao patamar de “o bonzinho da história” são, na verdade, resultado de uma neurose. Veja qual o mal que acomete alguns deles.

CINDERELA
Diagnóstico: Necessidade de aprovação social
Agradar a todos que a cercam, indo contra os próprios sentimentos, fez com que ela tivesse um comportamento doentio. A patologia começou após a morte da mãe – ela aceitou a madrasta e as irmãs de criação para não desapontar o pai. A reação dele, de não se opor aos maus-tratos impostos à filha pela segunda mulher, marcaram a forma de Cinderela se relacionar com o mundo. Ela passou a ter uma percepção fragmentada de si mesma. A fragilidade emocional pode ser percebida pelo fato de ela ter aceitado se casar com o único rapaz com quem se relacionou, após dois encontros (no baile e na devolução do sapato perdido na festa). A psicoterapia pode ajudar a reforçar a auto-estima e a abandonar as relações de dependência.


LOBO MAU
Diagnóstico: Psicopatia
A inabilidade em seguir regras, combinada com a falta de empatia, pode levá-lo a arroubos de fúria. A vida instintiva é seu ponto de apoio para cometer crimes: fundamenta-se em dieta carnívora para justificar assassinatos, falsidade ideológica e estelionato. Costuma estabelecer uma relação de confiança com as vítimas. Foi com perguntas aparentemente tolas que o lobo descobriu o itinerário de Chapeuzinho, uma de suas vítimas. O sentimento de superioridade e a falta de remorsos também fazem parte da patologia. Sugere-se ainda uma tendência de distúrbios sexuais, especialmente pedofilia. A internação em uma prisão psiquiátrica seria uma medida razoável, em prol da sociedade.

POOH e TIGRÃO
Diagnóstico: Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH). Tipo predominantemente desatento
Pooh tem uma extrema dificuldade em prestar atenção nos detalhes e em refletir sobre os fatos que o cercam. Como é natural da patologia, mantém um centro de atenção – no caso, a comida. Consciente da tendência à distração, chega a tomar nota dos acontecimentos e afazeres. Mas nem isso é capaz de organizar seus pensamentos. O transtorno que apresenta se opõe ao verificado no amigo Tigrão, que também tem TDAH, mas atende ao tipo predominantemente hiperativoimpulsivo. Ambos poderiam ser beneficiados com uma combinação de medicação e terapia comportamental. O principal ganho seria na realização de atividades cotidianas e uma melhora da auto-estima.

RAINHA MÁ
Diagnóstico: Transtorno de Personalidade Limítrofe (TPL), com traços de narcisismo
Atraente e envaidecida disso, a madrasta começou a apresentar problemas de relacionamento com a enteada, despertando arrogância e frieza. O quadro agravou os impulsos obsessivos que já faziam parte do histórico da Rainha – como se observar no espelho. O medo inconsciente da rejeição desperta atitudes furiosas e paranóicas. O abuso do poder sobre o caçador contratado para matar Branca de Neve é uma manifestação narcisística. Ela ainda desenvolveu uma dissociação de personalidade, manifestada pela obsessão por matar a enteada, fazendo com que os objetivos de vida sejam alterados drasticamente e de forma inconseqüente. Recomenda-se terapia comportamental continuada.

PETER PAN
Diagnóstico:
Narcisismo patológico e traços de personalidade autodestrutivos. Possível transtorno alimentar

O comportamento de Peter Pan é marcado pelos modos exagerados e pela ausência de empatia com os demais, que trata com indiferença e arrogância. O medo de responsabilidades e a insistência em conviver com fadas são sinais de um sentimento de inadequação à própria realidade – possivelmente resultado da ausência de vínculos familiares. Como todo narcisista, é no fundo extremamente frágil e inseguro, o que o torna sensível a críticas. A vulnerabilidade também se manifesta nas escolhas extremadas, no estilo oito ou 80. Os distúrbios alimentares podem ter duas causas aparentes: disputa pela atenção e medo de crescer ou envelhecer.

HOMEM DE LATA
Diagnóstico
: Transtorno de personalidade esquizóide
A morte precoce dos pais e as seqüentes violências sofridas depois disso transformaram o Homem de Lata em uma pessoa incapaz de estabelecer vínculos afetivos, preferindo a solidão. O transtorno se enraizou quando ele passou a usar uma armadura para esconder o resultado das agressões. A inabilidade de interagir, típica do transtorno, não é sinal de ausência de sentimentos, e sim de uma dificuldade de vivenciá-los por insegurança. A situação é notoriamente desconfortável e chega a ser somatizada no corpo com articulações travadas e na ausência de um coração. Buscar ajuda com o Mágico de Oz oferece um prognóstico interessante, embora seja mais recomendável o auxílio de um psiquiatra.

BURRINHO
Diagnóstico: Transtorno distímico (disforia)
O aspecto cabisbaixo do burrinho, com atitudes constantes de humilhação, pode ser influenciado por uma série de fatores. A começar pela dieta adotada: a alfafa, que compõe a base de sua alimentação, é pobre em vitaminas, minerais e ácidos graxos, essenciais para manter a saúde física e mental. Morar afastado dos amigos também pode ter contribuído para um complexo de inferioridade. Mas a perda do rabo ainda na infância se configura como centro do quadro patológico. Como sintoma do transtorno, Ió se nega a pedir ajuda. Como tratamento, a fluoxetina seria uma boa alternativa, combinada com psicoterapia. Por se tratar de um mal de influência social, seria recomendada uma terapia em grupo.

ALICE
Diagnóstico: Não apresenta distúrbios – alta médica
Fruto de uma família bem ajustada, a menina Alice consegue manter a sanidade mesmo quando inserida em um mundo surreal, repleto de indivíduos desajustados. Permanece calma até mesmo sob influência de substâncias que alteraram sua percepção. É otimista sem exageros e responsável (preocupa-se com quem alimentará sua gata Dinah enquanto estiver no País das Maravilhas). Diante das adversidades, não se entrega ao desespero e busca um caminho de recuperação. A moral da menina, apesar da pouca idade, também é forte: ela institui um veredito antes da condenação do Valete de Copas. Pela lucidez e firmeza de personalidade, é dispensada do tratamento.

Correio Braziliense: A casa 11

O número 11 foi explorado por Conceição Freitas em uma curiosa reportagem publicada hoje no Correio Braziliense. No texto, surgiu uma pequena confusão. Citei que no tarot de Waite (e derivados), a Força (11) trocou de posição com a Justiça (8). Também expliquei pra Ceiça que a soma de 2011 dá o arcano 4, O Imperador(2+0+1+1 = 4). Na hora de escrever, com tanta informação, ela acabou trocando os dados. Mas nada que prejudique em muito a reportagem.

Reproduzo aqui a abertura do texto e, logo abaixo, deixo o link para quem quiser ler o conteudo na íntegra.

Correio conhece projetos para 2011 em casas nº 11

O Correio conversou com 11 moradores de residências de número 11 em 11 regiões administrativas da capital do país. Ouviu histórias de esperança, de desejos, de sonhos e de futuro em torno de um algarismo que, segundo especialistas, traduz razão e força

Conceição Freitas

No tarô, 11 é a carta da força, mas há versões mais recentes nas quais ela é a representação do imperador. Na numerologia, 11 é o número da revelação, da intuição, da vanguarda, da nova era. Para celebrar o ano de 2011, o Correio visitou 11 casas de número 11 em 11 regiões administrativas para saber dos projetos de vida dos brasilienses que têm o décimo-primeiro número na porta de casa. Parecia fácil encontrar casas de número 11, mas não foi bem assim: no Cruzeiro, na Asa Norte e em boa parte da Asa Sul não existem moradias de número 11. A numeração dos endereços começa pelo número 3 ou 4 e seguem de seis em seis números. Ou seja, casa 3, casa 9, casa 15 e assim sucessivamente.

A carta 11 dos tarôs clássicos “representa a nossa necessidade de manutenção do intuitivo para que se possa transcender”, como explica o tarólogo João Rafael Torres. Há tarôs mais modernos, Torres informa, em que o 11 é a carta do imperador, que representa o princípio da razão, e “nos desperta para o foco, enfatiza o pensamento”. Porém, se aplicado em exagero, esse recurso pode ser tornar autoritário.

Para 11 moradores de casas 11 de Brasília, o ano 2011 será destinado, basicamente, a um objetivo: a compra da casa própria. Para quem ainda não tem carro e para quem, como o motorista Boaventura Rocha Araújo será um ano para trocar de veículo, o que ele acha necessário, apesar de ser proprietário de um impecável Gol vermelho 2008.

O projeto mais importante do servente de pedreiro Agostinho Campos para 2011 é reatar o casamento com a Ivany. Desde às vésperas do réveillon que Agostinho tentava se aproximar da ex-mulher. Ele passou a quarta-feira da semana passada peneirando areia para o reboco da casa de Ivany em Sobradinho II. Mas, até então, ele não havia conseguido convencer a ex a aceitá-lo de volta. “A fila anda”, ela avisou, e ele fez de conta que não ouviu. Bem longe dali, no Lago Sul, a servidora pública aposentada Maria Helena Prado anunciava seus projetos para este ano: conhecer novos mares, no Brasil, na Turquia e no Egito. Como dizia o poeta, há sempre um copo da água para quem quer navegar.

http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2011/01/03/interna_cidadesdf,230653/correio-conhece-projetos-para-2011-em-casas-n-11.shtml

Correio Braziliense: Simpatias, superstições e cores para o réveillon

O Correio Braziliense publicou hoje uma reportagem da jornalista Mara Puljiz sobre simpatias e superstições de ano-novo. Colaborei com informações sobre os rituais e com dicas de cores para a hora da virada. A reportagem, na íntegra, está disponível abaixo. E minha participação no parágrafo em destaque.

Confira algumas dicas de cores e simpatias para começar 2011

Escolher uma cor especial para as roupas, comer lentilhas, guardar caroços de romã, fazer oferendas a Yemanjá e pular três vezes com o pé direito segurando uma taça de espumante são alguns dos rituais muito praticados na passagem do ano. Mesmo quem não é supersticioso costuma aderir ao momento místico

Mara Puljiz

Contagem regressiva para 2011. Faltam dois dias para o réveillon e é hora de refletir sobre o ano que ficou para trás. Momento de reviver as alegrias e pensar positivo para os 365 dias que virão. Felicidade, dinheiro, amor, paz e saúde são os desejos mais comuns. Mas não basta desejar. Para garantir boas vibrações em 2011, há quem acredite na força das cores e nas simpatias (veja quadro). Usar branco para ter paz, comer lentilhas ou guardar caroços de romã para sempre ter dinheiro, usar calcinha rosa para conquistar uma nova paixão, entre outras, estão entre as superstições mais tradicionais para atrair prosperidade. Quem faz garante que dá certo.

A estudante de administração Sarah Jaber Cardoso, 21 anos, costuma passar o réveillon vestida de branco. Este ano, grávida do primeiro filho — se chamará João Gabriel —, a jovem quer usar algo diferente para trazer sorte e saúde para o pequeno, além de felicidade ao lado de Márcio Leandro Macedo, 24, seu namorado. Sarah ainda não decidiu pela roupa, mas garante que a escolha dependerá do seu estado de espírito, em sintonia com o significado de cada cor. Ela está na dúvida entre vermelho, verde e amarelo. Supersticiosa, ainda promete comer três caroços de romã, em homenagem aos três Reis Magos, e guardar outros quatro deles enrolados em uma nota de R$ 2 dentro da carteira durante o ano inteiro, sem gastar a cédula. No ano seguinte, a nota será doada. “Acredito muito nessa simpatia. Faço isso para não faltar dinheiro dentro da carteira e tem funcionado”, garantiu ela.

Sarah mora no Setor Tradicional de Planaltina e compartilha com a família as simpatias. Quando o relógio marca meia-noite, ela e todos de casa também não deixam de comer lentilhas. “Normalmente fizemos festa em família. Este ano, todo nós vamos comemorar a virada numa chácara. Tudo o que eu quero para 2011 é muita paz e saúde para o meu filho, João Gabriel. É um ano muito especial para mim”, destacou.

Sal grosso
A estudante de direito Ana Paula Bezerra Godoi, 23 anos, não se considera supersticiosa, mas há quatro anos não abre mão de tomar banho de sal grosso na noite da virada. “É regra eu fazer isso porque acredito que o banho limpa tudo de ruim que aconteceu no ano”, explicou a moradora de Sobradinho. Por influência de uma tia, Ana Paula também costuma usar calcinha amarela. “Não parei para ver se melhorou, mas na dúvida, eu uso”, diverte-se. Quem também compra uma peça íntima a cada réveillon é a babá Cleuza Bento Rodrigues, 37 anos. No ano passado, a moradora do Paranoá vestiu três calcinhas diferentes —uma branca, uma amarela e outra vermelha. “Usei uma em cima da outra para trazer paz, amor e esperança.”

Desta vez, Cleuza resolveu apostar na calcinha branca. “Esse ano eu quero mais paz e felicidade”, explicou. A par das preferências dos clientes, os comerciantes investiram nas compras dos acessórios mais diversificados. Nas lojas do Plano Piloto, é possível encontrar modelos de calcinha com o trevo da sorte e o emblema da cédula. “Todo dia saem umas quatro dessas aqui. As clientes estão procurando muita peça assim para passar o ano-novo”, disse a vendedora Raíssa Siqueira Reis, 18 anos.

Na casa do servidor público José Fernandes Melis, 49 anos, na QE 26 do Guará II, é tradição cada membro da família comer 12 sementes de uva verde e um punhado de lentilhas. “É assim há 10 anos. Acredito que traz sorte e vibrações boas”, avaliou. José passou a usar camisa amarela no ano-novo, mas antes não acreditava muito nas crenças e simpatias. Depois de ouvir tantas pessoas comentarem, resolveu experimentar. “Foi uma curiosidade que despertou em mim e que deu certo. É bom a gente acreditar. Até agora tem dado certo em todos os aspectos, como na saúde e financeiramente. Mas tendo saúde e paz é o que importa de verdade. O resto a gente corre atrás”, disse.

Questão de fé
Para o tarólogo e analista junguiano João Rafael Torres, os rituais constituem um dos valores culturais mais importantes da humanidade. “Acredita-se, inclusive, que tenham ajudado a moldar a vida em sociedade, se pensarmos neles como a origem de todas as religiões”, completou. João Rafael acredita que quando se faz um ritual, como as simpatias da passagem de ano, cria-se um marco para o momento. “Os elementos escolhidos evocam sempre um valor simbólico do que se deseja atrair ou afastar. Por isso, é comum ver o uso de sementes e moedas em rituais de prosperidade.” Mas o tarólogo lembra: nada flui quando não se crê no que foi feito. “Só a partir da crença é que conseguimos mobilizar a energia psíquica necessária para promover a transformação desejada. O ritual é uma forma de marcarmos internamente nossos propósitos. Ele promove uma conexão simbólica com o inconsciente, que proverá com respostas e transformações para nossa vida”, ensina.

nivas gallo