Na série mensal sobre orixás, abordo hoje Oxumaré e Euá, as serpentes sagradas responsáveis pelo dinamismo e pela renovação da vida.
Originário do Daomé, é o grande orixá da nação Jêje-Mahi, onde recebe o nome de Bessém. É representado por uma grande serpente, que liga o orum (céu) ao aiyê (terra). Nessa conexão, ele também é o encarregado de trazer a água aos homens, a partir da chuva. Está associado assim à fartura e à riqueza: pensemos que, na aridez africana, a chuva é a maior dádiva que se pode ter, por propiciar a vida. Oxumaré também é representado pelo arco-íris e, como ele, representa a diversidade. Assim como uma cobra, Oxumaré tem a facilidade de adaptação às situações mais difíceis e faz questão de reinventar-se constantemente, como quem troca de pele. Tem a capacidade de ler a situação nas entrelinhas – por isso, miticamente, é visto como o grande babalaô (olhador de oráculos). A predileção por tudo que é misterioso, mágico, contribui com este fim.
Oxumaré conduz conflitos com sagacidade. É do tipo que não se iguala aos inimigos: planta situações para que a verdade se manifeste. Gosta, inclusive, dessa aura de mistério que envolve o seu nome. Comentários com sentidos dúbios e frases não-terminadas podem inspirar desconfiança no outro, que pode enxergar um tom de maledicência nos seus gestos, palavras e, principalmente, em seu silêncio. Tem um humor refinado, costumam ser despachados e interessantes.
Tem cargo de liderança, gosta do poder e não esconde a ambição. Elegante, oscila entre roupas extremamente sóbrias e acessórios chamativos e caros. Dotado de uma beleza andrógena, atrai pessoas de ambos os sexos e não tem tabus no que diz respeito à orientação sexual. É, definitivamente, um orixá marcante.