Junho se aproxima e as vitrines se lotam de corações. E muitos corações se lotam de questionamentos: “mais um dia dos namorados e eu sem ninguém, por quê?” Num período como esse, no qual as relações conjugais ganham tamanha evidência, não ter uma companhia é motivo para frustração. Afinal, o que há de errado? A falta de sorte no amor parece uma justificativa ideal para essa premissa. Mas seria simplesmente isso?
“Eu quero ter alguém, mas alguém especial. Não me venha com qualquer pessoa.” Preconceitos nunca são bem-vindos, principalmente quando acompanhados pela prepotência. Seleções prévias diminuem drasticamente a chance de conhecer alguém interessante. Quem se apoia na crença mágica da companhia perfeita ainda não se desligou da infância e dos contos infantis: príncipes e princesas só se encontram nas historinhas. Ademais, vistos de perto, até mesmo os personagens encantados têm suas imperfeições – nós, humanos-da-vida-real, então… Enquanto a busca do amor ideal for conduzida com uma lista prévia de requisitos, será difícil encontrar a felicidade conjugal. É justamente quando esse tipo de crença se afasta que encontramos a pessoa mais condizente com o que somos.
“Já sofri demais em outros relacionamentos. Desta vez não vou me entregar como fiz no passado.” Não quero dizer aqui que as experiências que adquirimos são inválidas para nosso progresso. Mas elas não podem ser determinantes para o futuro. Em geral, quando generalizamos o comportamento dos outros é sinal de que ainda não curamos as feridas do passado. A tendência, nesses casos, é de buscarmos pessoas semelhantes às que nos fizeram sofrer – não para comprovar a teoria que concebemos, mas para que tenhamos uma nova chance de ressignificar a temática em questão. Feridas precisam ser reparadas, no duplo sentido da palavra: da observação e do conserto. Além do mais, ninguém deve ser condenado por um crime cometido por outrem. Principalmente você! Privar-se da entrega em outros relacionamentos pelo erro de quem já passou em sua vida é martirizar-se à toa. Prevenir-se de um possível sofrimento no futuro é, também, privar-se de viver momentos de felicidade.
“Quero namorar, mas não quero com isso me anular. Um relacionamento ideal é aquele que não interfere muito na minha rotina.” Um dos pressupostos de uma relação é compartilhar com a outra pessoa nossos sucessos e fracassos, dores e delícias. Querer um namoro asséptico, sem contaminações, é viver a superficialidade. Anular-se é perder a identidade, confundir-se com o outro “em nome do amor” (seria amor?). Uma relação saudável não nos diminui – é justamente o contrário: acrescenta novos valores.
“Até conheço pessoas interessantes, mas só consigo me relacionar quando uma energia diferente, aquele encanto da paixão à primeira vista.” Borboletas no estômago, sinos que tocam, uma luz diferente… Essas sensações com um quê de magia são fascinantes, mas perigosas. Quando aparecem, elas sinalizam que, quem está à frente não é uma pessoa real, e sim a pessoa que eu quero enxergar. É o que chamamos de imagens projetivas. Elas nos encantam, enredam e fascinam. Mas também podem frustrar imensamente, quando percebemos que a realidade não era aquilo que foi imaginado. Esse tipo de projeção é comum, inevitável para ser mais preciso. No entanto, é preciso atenção para que não forcemos a outra pessoa a ser o personagem que inventamos – sob o risco de recebermos o troco na mesma medida. Nesses casos, um casal é feito por quatro pessoas: eu, você, a imagem que eu carrego de você e a imagem que você carrega de mim. Confusão na certa…
Iniciar um relacionamento não é apenas uma decisão da consciência. A vontade de ter alguém, gritada com total convicção, muitas vezes esbarra em uma série de prejulgamentos internos. Saiba observá-los e contê-los. E lembre-se: determinismos dissolvem a possibilidade de ser feliz.