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Psique: O ego é uma figura imprescindível para a manutenção da saúde psíquica

crédito: Metrópoles/iStock

Na semana passada, citei num texto sobre o vazio algumas características do ego. Entre elas, a pressa, o olhar limitado e a necessidade de controle. Pareceu que eu queria criticá-lo, como ressaltaram alguns colegas analistas. Não foi a intenção.

Quem me conhece, sabe que não apoio o discurso antiego. Ele é fundamental para que tudo não desmorone, para que a individualidade possa se realizar com a influência e não sob o domínio dos conteúdos coletivos. Defendo o ego de forma respeitosa.

O ego é aquele que interpreta a realidade, e a define como tal. Ou seja: é quem identifica, nomeia e processa aquilo que vivenciamos, sentimos, pensamos e fantasiamos. É uma figura imprescindível para a manutenção da saúde psíquica.

Sem ele, seríamos difusos, inconsistentes – pois assim são os incontáveis personagens que nos habitam. Não se vê nessa pluralidade toda? Então, avalie com sinceridade: você age da mesma forma diante de sua mãe, no trabalho, na religião e nas relações conjugais?

Cada contexto chama um personagem, e todos cabem dentro de si. Cada um com suas particularidades: interesses, crenças, emoções e sistemas. Cada personagem é coerente em si, mas não necessariamente com os demais. São como personalidades que nos habitam. Algumas convivem bem com as demais, outras, não.

Por este motivo, costumo dizer que ele é o zelador do prédio, o gerente do RH. É ele quem tenta administrar uma pluralidade incontável de personagens que constituem o sujeito. Encontrar o espaço certo e a forma mais adequada para harmonizar essa convivência. Nunca é fácil, pois os interesses costumam ser divergentes.

O ego é quem mais sofre nessa história toda, pois é puxado a atender uma série de demandas e interesses. Na análise, ele é o meu interlocutor e também a voz dos demais personagens. Ora para defendê-los, ora para acusar os danos por eles gerados.

Meu ofício parte dessa escuta. De compreender com quem o ego está irmanado, e de avaliar como está a capacidade dele de lidar com as asperezas da realidade. Ele é a voz do sofrimento, é quem reclama do mundo que não se comporta de acordo com os ditames do que julga correto.

Quantas e quantas vezes, ele chega aqui fraquinho, indefeso, incipiente. Ainda indiferenciado das questões familiares; achando que é seu aquilo que, de fato, é uma reprodução de imagens herdadas pela mãe e pelo pai. Sem capacidade ainda para realizar sua verdadeira missão.

O ego é aquele que se encarregará da realização da alma, é o seu veículo. Quando está devidamente fortalecido, fará com que o indivíduo explore suas potências da melhor forma, e, assim, possa marcar sua presença no mundo.

Propiciar o desenvolvimento do ego não é inflacioná-lo, cedendo lugar à ignorância, à soberba, à mesquinharia. É fazê-lo compreender da tal missão e curvado a atender tais propósitos, maiores que sua vontade e prazer. Ele é o cavalo que, para executar bem o trajeto, precisa estar submisso e confiante no cavaleiro que o conduz.

Para que se atente a isso, muitas vezes ele precisará ser contrariado. E será. Seja no processo analítico, de forma simbólica, seja nos acontecimentos e eventos concretos. A vida corrigirá os cursos dos egos arredios, mesmo que isso seja marcado pela dor e pelo sofrimento. O maior deles, certamente, será o de perceber-se limitado. Humano, simplesmente.

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