Self

Psique: O que não te melhora, não te merece

Crédito: Metrópoles

 

Heart and old rusty padlock with visible surface details on a wooden background.

O mundo é enorme e repleto de possibilidades. Em muitos momentos, essa diversidade até parece injusta. Desperdiçamos mais oportunidades do que aproveitamos, por uma questão prática: só estamos em um lugar por vez, cada encontro é único. Ainda assim, insistimos em nos dispor àquilo que nos subtrai o precioso tempo.

Quase sempre, funcionamos assim por uma espécie de distração perniciosa. Automatizamos nossas atitudes, muitas vezes sem perceber o dano gerado pela repetição habitual. Aos poucos, fixamo-nos em velhos papeis, até nos transformarmos em caricaturas de nós mesmos – apoiada em velhas manias, velhas histórias, velhos sonhos que nunca se concretizam.

Fora isso, somos acostumados a acreditar num sentimento de dívida com o outro. E, a partir disso, estabelecemos com ele vínculos doentios, pautados nos jogos de dominação e submissão. A convivência é para todos nós uma necessidade vital. Mas a forma como isso se estabelece pode aprisionar ou libertar.

Trocar para crescer
Para ser positiva, toda relação deve ser um exercício de concessão. Encontro no outro algo que me falta. Mas, para acessar esse recurso, preciso abrir mão de um valor que me é caro. Ele suplementará a carência daquele com quem me relaciono. E, dessa forma, ninguém sai prejudicado: ambos multiplicam possibilidades de serem melhores, mais interessantes do que já foram.

No entanto, o bem não se faz em todos os encontros. Não por ausência do que trocar. Creio sempre há uma possibilidade de estabelecer uma permuta justa. O que atrapalha é a soberba. Ela se manifesta na incapacidade de reconhecer no diferente um valor equivalente ao que julgo possuir.

Nas relações, os critérios desse julgamento são subjetivos. No soberbo, também costuma se manifestar um mesquinho. Ele acredita numa suposta dívida do outro para consigo. Acha-se sempre merecedor dos cuidados e atenções e que, por isso pode oferecer menos a quem o serve.

Esse tipo de convivência só se alimenta na presença de um complementar. Ou seja, daquele que vê na subserviência uma estratégia relacional, por não conseguir reconhecer e valorar o que carrega em si. Na verdade, ambos se retroalimentam nessa dinâmica pela incapacidade de estabelecer outros modelos mais saudáveis de interação.

A distância segura
Uma boa estrutura psíquica faz com que reconheçamos o risco desse tipo de vínculo. E, assim, evitamos os dissabores que tais pessoas podem nos trazer – dos que nos convidam para ser escravos ou senhores. Não proponho, com isso, uma condenação. Mas não precisamos ser coniventes para sermos tolerantes, respeitosos.

Uma atitude compassiva corresponde exatamente no contrário: estabelecer uma distância segura é uma forma de proteção mútua contra o mal que se apresenta no outro e que também pode lhe atingir. O grau de toxidade desse tipo de relação é absurdo. Se você não sente segurança para não se contaminar, não hesite em dizer: não, obrigado.

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