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Domingo estava numa conversa com amigos quando eu disse que preciso trocar os pneus do meu carro, pelo desgaste natural de uso. Uma amiga, bem querida inclusive, sugeriu que eu trocasse de carro. Isso me espantou, mas me fez pensar.
Todo mundo gosta do que é bom, especialmente do que vem com cheiro de novidade. E somos aguçados a substituir mesmo, sem muitos questionamentos. Afinal, consertar é dispendioso e dá trabalho. E não estou mais falando de carros.
Adotar a substituição como caminho é um argumento falacioso. Funciona sem funcionar. No consultório, vejo que grande parte das angústias parte da incapacidade de promover substituições.
O descarte é geral: empregos, amizades, amores, deuses, tratamentos. Se a resposta não for imediata, e satisfatória aos anseios egoicos, está na hora de partir para a próxima. Esquece-se apenas que é depois da sedimentação que encontramos fundamentos sólidos.
É um desafio, enquanto analista, levar certos clientes a perceberem que consertar é uma saída viável – e muitas vezes mais eficaz que a troca. Até porque, se não aprimorarmos a nossa capacidade de viver, teremos grandes chances de “estragar” o novo por “má operação”.
Esse olhar ávido pela novidade, ou simplesmente a incapacidade de lidar com o problema, forma uma geração cada vez mais ansiosa e intolerante com os defeitos – dos outros e os próprios.
É justo que tenhamos tantas dificuldades para lidar com o corriqueiro, principalmente com as finalizações que não deflagramos. Ficamos abalados não pela perda em si, mas por não termos dado a palavra final. Como se algo ou alguém nos tivesse usurpado o poder de decisão. Como se decidíssemos mais do que somos decididos pela vida.
Seja uma relação ou um carro, condenar um bem maior em virtude do que vejo como defeito é um desperdício. É certo que nem tudo tem conserto. Mas nosso dever é tentar melhorá-lo. E, assim, melhorarmos também.