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Somos seres impressionantes e impressionáveis. A cada momento, algo novo nos atravessa – vindo de fora, do outro, ou de algum aspecto desconhecido de nós mesmos. E em cada atravessamento, a plasticidade da vida se manifesta.
A mudança está ali, até quando não temos a capacidade de percebê-la. Quando o encerramento do ano se aproxima, invariavelmente o consultório assume uma espécie de ritmo de balanço. Clientes aprontam retrospectivas, traçam metas, fazem inventários, pedem devolutivas.E isso é muito importante, faz parte do meu papel. Especialmente porque nem sempre temos por hábito avaliar a trajetória percorrida. O ideal de irmos muito além faz com que menosprezemos resultados. Aí eu entro: mostro como foi importante cada avanço.
É uma espécie de educação para que celebremos nossos méritos. Sem pedantismos, nem egos inflacionados. Mas ter o orgulho e a honra de conseguir suportar as próprias mazelas, transformar o que é possível, explorar as possibilidades da melhor forma. Sentir-se inteiro na própria vida.
É gratificante quando vemos um novo brilho no olhar, uma postura mais serena, mais assertiva. A cumplicidade que se forma na nossa relação faz com que os avanços não precisem ser nomeados – são percebidos de alma para alma.
Nesses momentos, confrontamo-nos com o orgulho e a vaidade, que podem ser a grande mácula de todos nós, terapeutas. Nosso papel é de acompanhar transformações, e não de deflagrá-las. Entender isso custa um tanto, assim como também custa a frustração de não ver o avanço que idealizamos.
Esse acaba sendo também um período de despedidas. Por mil razões. As viagens de férias. As mudanças de cidade. Os novos planos. As fugas diante dos grandes confrontos. Tudo potencializa encerramentos, cada um deles inspira uma emoção. Realização, fé, preocupação, alívio.
Por aqui, vou ficando. Arejar a cabeça, remexer os livros, realizar novos pensamentos, conectar velhas emoções. Tudo para que, quem chegue, seja recebido com a energia de renovação – algo imprescindível para os dias de hoje.