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Deus escreve certo por linhas tortas. Somos chamados a acreditar nisso, seja por crença religiosa ou como metáfora: como forma de percebermos que nossa vontade pode apontar para equívocos, mas que a vida está atenta e disponível para corrigir as rotas antes que um mal maior aconteça.
É o que chamamos de livramento: o escape diante da nossa cegueira, o anteparo invisível que nos guarda na beira do abismo, a blindagem contra aquilo e aqueles que podem nos tanger dos propósitos de nossa alma.
Deveríamos agradecer devotamente quando isso ocorre, mas nem sempre é o que acontece. Quase sempre, queixamo-nos pelos planos que falharam, pelos contatos não efetivados. Achamos que o mundo está sendo cruel com o nosso desejo.
Essa reclamação parte do ego – uma espécie de gerente prepotente que se acha o dono da loja. Quando as coisas não saem como ele gostaria, faz birra como uma criança mimada: vitimiza-se, insiste no erro, ignora os sinais. E sofre pela própria ignorância.
Daí passa o tempo, senhor de tudo, e a vida mostra que aquela frustração foi um ponto de partida. Percebemo-nos pequenos e conduzidos por uma força maior para algo muito mais pertinente.
Muitos, ao viver isso, refazem os laços com o sagrado. Em suma, isso se dá quando percebemos um sentido maior para existência, quando nos vemos pertencentes e integrantes num sistema bem mais complexo que esse das eleições egoicas.
Por isso, o livramento não é para todos. O mundo nos pede autoria, liderança e controle, valores com os quais o ego tem plena identificação. Não existe assistência se não há espaço para a submissão (estar sob uma missão, mesclar-se a um propósito maior).