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“Eu não autorizo que nenhuma rede social se aproprie das minhas imagens, textos e comentários, pois não quero que minha privacidade seja violada”. Copie e cole isso no seu mural caso queira propagar a incoerência.
Já virou lugar comum dizer que vivemos uma realidade de exposições, uma vida de avatares felizes e realizados… Mas o mais estranho de tudo isso é ver quem já tem este comportamento incrustado como hábito querer requisitar a preservação da própria imagem.
O tom e a responsabilidade sobre a privacidade sempre esteve mais em quem se expõe, e menos em quem observa. Isso por uma questão muito simples, e que atravessa a todos, em maior ou menor grau: a curiosidade. Ela não será barrada por uma indireta ou ameaça de Facebook: “Vou excluir quem vê e não comenta” – a carência extrapolada em níveis perigosos.
É quase instintivo. Temos o ímpeto de querer descobrir segredos, de conhecer o desconhecido, de investigar mistérios. Isso é muito importante, pois garante a perpetuidade e o desenvolvimento da espécie humana. Imagine o que seria da ciência se não estivéssemos atentos aos movimentos estranhos de nosso entorno.
Nas relações humanas, isso também é imprescindível. A história de uma criança se constrói a partir das descobertas que faz, daquilo que vai além das referências que lhes são transmitidas. Uma criança curiosa será um adulto esperto e com mais capacidade de reagir diante do inesperado – apesar de isso se configurar como uma chateação aos adultos que a cercam.
Amadurecer é, também, mudar o objeto da nossa curiosidade. Desloca-se daquilo que está fora de mim para o mundo interior. O outro ganha nova importância quando nos tornamos mais interessados naquilo que somos, nos recursos que angariamos no percurso.
O problema é que, na maioria das vezes, as referências encontradas são ilusórias, por se tratarem de recortes vaidosos da realidade. O que faz com que nossa curiosidade se aguce ainda mais: “Como é possível viver tão bem, o que me falta para experimentar esse contentamento?” Uma pergunta sem respostas.
Teatralizamos a vivência do outro como um manual. E vivemos assim, inconscientemente, sem mensurar a falha de tal concepção. Afinal, qualquer experiência compartilhada será, ao máximo, semelhante à minha. Inspiração não é cópia. Daí a gente finge que não percebeu isso, e sai copiando. Ou, quando destoa do que julgamos bom, combatemos veemente. Grave.
Até que “o tema” somos nós. Daí armamos defesas, reclamamos privacidade. Esquecendo-nos que a vidraça transparente faz com que eu veja o outro à medida em que ele me vê – e aí mora a justiça da coisa. É muito simples: não quer ser assunto? Não dê assunto.