Self

Outras Ondas* – Pílulas de riso


Vinícius de Morais dizia que é melhor ser alegre que ser triste. No Livro dos Provérbios, lê-se que “um coração alegre faz tão bem quanto o remédio, mas uma alma abatida seca os ossos”. No ditado popular, temos a crença que rir é o melhor remédio. Um dos gestuais mais naturais ao homem, no entanto, nem sempre é cultivado com a importância que lhe é merecida. Desprezamos assim uma importante chave de renovação de energias.

Recentemente, foi publicada no The Telegraph uma curiosa reportagem que desmistifica o grande terror dos patrões nas empresas. Cientistas canadenses atestaram que não há perda de tempo em interromper o trabalho para assistir vídeos engraçados na internet. É justamente o contrário: pessoas que fazem pausas para cultivar o bom humor e dar boas risadas apresentam um maior rendimento laboral, inclusive com soluções mais criativas e dinâmicas, se comparados com aqueles que se mantêm atentos somente ao trabalho. Motivo suficiente para desbloquear o youtube da máquina do seu funcionário ou estagiário.

Vez por outra, a ciência tenta comprovar o que já está marcado no inconsciente coletivo. Rir deve ser contemplado como um exercício terapêutico, capaz de ser treinado, vivenciado e estimulado. Considera-se a depressão como o mal do século 21. No entanto, a estratégia mais usada para sanar o problema não vem da natureza e sim da farmacologia. O composto sintético presente no comprimido faz as vezes da boa gargalhada. Atrofiamos a nossa capacidade de ver graça nas coisas quando recorremos a indutores de endorfinas e dopaminas sem a real necessidade. O riso entra aqui com ação profilática: evita que a tristeza, esquecidamente natural ao homem, se transforme em uma patologia.

Estudos americanos recentes mostram que o riso nos defende de uma série de microorganismos invasores. O Departamento de Bioquímica da Universidade de Navarra, Espanha, estima que 15 minutos diários de riso podem garantir até 4,5 anos a mais de vida, além de reduzir em até 40% a chance de infartos. Temos em Path Adams o precursor de uma abordagem que toma, aos poucos, espaço na medicina: a valorização do bom humor do paciente para fortalecer o sistema imunológico. No Brasil, o movimento está muito bem representado pelo médico Marcelo Pinto, mais conhecido como Doutor Risadinha. Ele recruta voluntários para levar a risoterapia a hospitais – além de criar o Espaço do Riso, em São Paulo, destinado a workshops sobre benefícios do riso.

Rir é relaxante, renovador e econômico: são usados 17 músculos para sorrir e 43 para franzir a testa. Abra um vídeo com a risada limpa de um bebê e veja como reage ao terminar de assisti-lo. Quer algo melhor que ir a uma comédia no teatro e sentar-se próximo ao dono (ou dona) da risada mais escandalosa da noite? Mundo afora surgem clubes do riso: locais onde as pessoas se reunem simplesmente para esbanjar sorrisos. Parece loucura, mas dá certo. Num primeiro momento, o tom parece forçado. Mas aos poucos nos deixamos envolver pelo clima de descontração e, quando menos se percebe, já estamos em cólicas. Rir é contagioso e saudável.

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