O shopping CasaPark me convidou para escrever um artigo sobre o valor das superstições e dos rituais praticados durante o réveillon. Reproduzo logo abaixo.
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Uvas à meia-noite, roupas íntimas com cores especiais, presentes à mãe das águas. A passagem do ano é um momento de íntima conexão dos homens com o mundo sobrenatural. Até mesmo quem não acredita muito se permite a viver uma certa superstição, uma mandinga amiga. Os pedidos são dos mais variados, mas em geral predominam os votos de abundância e de renovação de energias para o ano que se inicia. Mas qual seria a validade desses rituais?
Os rituais surgem como uma tentativa do homem de manipular a natureza em benefício próprio. Buscam, assim, uma forma de negociar com os deuses: consagrações de objetos para promover a caça, as colheitas e amores; sacrifícios para conter a sua fúria manifesta nas doenças, pragas e fenômenos destruidores.
Essa crença é tão fundamental para o homem que se apresenta, de forma espontânea, nas mais diferentes culturas. E também não é superado com o tempo. Em geral, eles são o marco para o início em uma nova fase da vida: ganhar a primeira bicicleta, o trote do vestibular, o casamento, o funeral… Parecem ser menos primitivos do que a imolação de animais nos ritos pagãos. Mas, na psique, carregam a mesma força e importância.
Nós, brasileiros, somos o resultado de uma mescla incrível de culturas. Índios nativos, europeus e africanos influenciam nosso povo com uma série de tradições que, por mais controversas que pareçam ser, casam-se com maestria na transição entre os anos. Nesse período, presentear as águas de Yemanjá com uma flor deixa de ser um pecado até para o mais devotado católico. Assim como o seguidor do culto afro fica à vontade para comemorar o Natal, sem se sentir em contravenção com os deuses negros. O período é de respeito à diversidade e integração.
Excedemos até as fronteiras entre as tradições que conhecemos. Seguimos ritos celtas, gregos, incas – sem mesmo saber a origem de cada tradição. Ou você nunca guardou sementes de romã na carteira? Elas remetem ao mito grego de Perséfone (foto ao lado), filha de Deméter, a deusa da fertilidade. Todo ritual se baseia num símbolo: frutos com muitos sementes chamam a prosperidade, assim como banhos nos remetem à purificação. Cores inspiram temas: vermelho, cor quente, para quem quer paixão; amarelo, cor do ouro, para quem busca dinheiro.
Em geral, uma crença otimista não implica em nenhuma espécie de dano à saúde psíquica. É justamente o contrário. Cada vez mais, a neurociência aponta para o que os sábios já intuíam: os bons pensamentos favorecem o bem estar. Dessa forma, marcar a passagem do ano com rituais é uma boa prática, especialmente para que o indivíduo se disponibilize aos desafios do novo período. Mas faça aquilo que se sentir à vontade: nada que venha a ferir as suas crenças mais íntimas, o que poderia gerar um quê de culpa. E, obviamente, sem exageros: interprete os rituais como um auxílio extra, e não como fator condicionante da sua felicidade. É só se valer da cultura popular: se bem não faz, mal não há de fazer.
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