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GPS Brasília: Precisamos do futuro?

Foi um prazer poder contribuir com a terceira edição da revista GPS Brasília, que circula na cidade entre dezembro e janeiro. Aproveitei o período para questionar os anseios sobre o futuro, a busca por previsões etc. O resultado está aí: 

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Precisamos do futuro?

Houve um tempo em que fazer análise era chique. Mais chique ainda era programar o ano a partir das dicas de um astrólogo, tarólogo – ou qualquer coisa que o valha. Daí veio a virada do século, do milênio, e a febre da autoajuda tomou conta, desbancando tudo isso. Legal mesmo era dar conta dos próprios problemas, sem levantar a bandeira branca da rendição, ou sem recorrer a ninguém. Afinal, todos precisam ser fortes.

Passado o exagero da independência, as pessoas voltam a admitir, aos poucos, que não há mal algum em buscar algum tipo de ajuda especializada. Afinal, a palavra da vez é o personal: alguém que me atenda de uma forma única. E assim retornam à cena os analistas, tarólogos e afins. Retrocedemos? Nada mudou? Acho que não é por aí.

Para começar, as demandas do mundo são outras. A padronização perdeu espaço para a individualização. Ao recorrer a profissionais que trabalham de forma personalizada, o sujeito está refletindo necessidades da alma. E isso força também os profissionais de ajuda a buscarem um desenvolvimento nas técnicas que usam. Outra marca da contemporaneidade é o tempo escasso: ninguém tem mais paciência para cozinhar os próprios problemas em fogo brando.

Já perdi as contas de quando comecei a jogar tarot. Nesse passar dos tempos, vi significativas mudanças nas posturas e nas temáticas privilegiadas pelos consulentes. Assim, surgiu há cerca de sete anos o Tarot Analítico. Trata-se de uma leitura das cartas conduzidas pelas teorias  psicológicas criadas pelo psiquiatra suíço Carl Gustav Jung.

A diferença não está na linguagem, mas principalmente no objeto investigado durante o atendimento. Em vez de especular sobre a possível inveja da vizinha, ou se pintará aquela proposta de trabalho, o foco são as ações do próprio indivíduo. O que você está fazendo com os seus problemas? Quais os impactos despertados pela inércia ou pela teimosia? Como os outros veem a sua postura diante dos fatos? Questionamentos como esses são suscitados na consulta. Mas a pergunta mais importante que o oráculo busca responder é, sem dúvida: para que você precisa viver essa situação? Ou seja, visa descobrir qual o sentido intrínseco a cada conflito.

A importância do sentido está no fato de que, muitas vezes, ansiamos um futuro sem, antes, percebermos quais os verdadeiros impactos do nosso desejo. Queremos ganhar novos cenários, mas, uma vez neles, percebemos que não nos saciam como imaginávamos. O que nos faz falta não é um bem, ou um cargo, ou um amor. A angústia que transborda é reflexo do esvaziamento interior. E é para isso que precisamos de sentido: para perceber que temos uma contribuição única a transmitir aos demais.

É inevitável que, nesse período de fim de ano, a procura por esse tipo de serviço cresça. O desafio para o ansioso é perceber que o futuro não está nas cartas, nem nos astros. Ele resulta de uma sucessão de fatos, escolhas, afetos e pensamentos. Obviamente, com uma certa dose de sorte, da qual podemos nos aproximar se estivermos de acordo com os desígnios da nossa essência. Se estivermos disponíveis a seguir esse propósito, viveremos o bem-estar. E, isso sim, nunca sai de moda.

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