Self

Outras Ondas* – A pedra no caminho

A adversidade é o nosso mais valoroso exercício de vida. Quando algo se impõe, em oposição, em nosso caminho, ganhamos a oportunidade de testar nossa resiliência: o valor de quem consegue ultrapassar a dificuldade, sem perecer diante dela. Mas nem sempre nos sentimos prontos para esse confronto. Antes de dar um passo, é necessário ter uma clareza sobre a melhor estratégia a usar, para que a experiência seja edificante.

Ao ter a paz perturbada por um novo fator, não desejável, pode inspirar um quê de negação. Relutamos a entender o porquê de não dar a fluência idealizada aos objetivos. Buscamos um afastamento da dor da frustração, sem entendermos que ela é resultado de uma idealização utópica do propósito – e o ideal está sempre distante da realidade. O ressentimento diante dos fatores causadores da adversidade também pode ser uma fuga perigosa. Projetar culpa sobre fatores que nos levam ao crescimento é, no mínimo, uma atitude imatura e egoísta.

Encarar a dificuldade não é simplesmente querer limá-la do caminho, ou desviar simplesmente. Numa postura de covardia, de quem quer se livrar a qualquer custo do inimigo que se prontifica à batalha, corre-se um grande risco: de encontrar, na próxima esquina, um adversário ainda mais robusto. A postura combativa deve ser uma atitude limpa e decente, onde reconhecemos pontos fortes e fracos em si e nos combatentes. Nisso está a honra do combate. A desqualificação, ou menosprezo, pode apontar para a insegurança. Saibamos entender que temos os adversários que merecemos ter. Nem para mais, nem para menos.

Querer classificar o combate como um mero desentendimento aponta também para uma postura diminuta diante do problema. Nem tudo é viável ao entendimento. E nem tudo se resolve pela simples compreensão. Admitir a falha é penoso, mas não o suficiente para reverter um processo. Muitas vezes, a arma preferida de quem adota essa postura é o convencimento.Querer persuadir a adversidade, como forma de que ela abandone o caminho. Essa postura é prima da indulgência – alternativa ainda mais arriscada, por pode afastar o combatente do páreo, ou por diminuir o valor do propósito final.

O embate soa como a melhor saída. Com ele, questionamos em primeiro lugar o valor do propósito almejado. Quando estamos diante de um objetivo diferenciado, sabemos que qualquer adversidade cessará, pois estamos motivados o suficiente para o enfrentamento. É essa fé que possibilita a busca por alternativas ao sofrimento. Inspira a busca por saídas que possibilitem um caminhar mais livre dos percalços. E é justamente com esse propósito que as adversidades nos chegam: precisamos ter a confiança na entrega e no valor do que se deseja. A dúvida é um caminho natural para que tenhamos certezas. E também para que as velhas certezas dêem lugar a novos paradigmas.

Nossa maior adversidade está em acatar a possibilidade de transformação. Ao duvidarmos da nossa capacidade de ir além do problema, abrimos mão da possibilidade de perceber que já estamos maduros o suficiente para superar as pedras do caminho. Elas têm a capacidade de nos fortalecer no caminho à evolução. Dependemos mais dos problemas do que eles dependem de nós.

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