Self

Outras Ondas* – Crianças divinas

O corpo é pequenino para uma alma tão grande. Os comportamentos refinados, as opiniões contundentes e maduras, e o olhar curioso e inquieto chegam a destoar da aparência infantil. Tudo forte demais, intenso demais – difícil até para a compreensão dos pais e demais adultos. Essa é a realidade de um número cada vez maior de meninos e meninas espalhados por aí. São as chamadas crianças índigo – gente miúda que parece estar à frente de seu tempo.

O termo foi criado em meados da década de 80 pela sensitiva e parapsicóloga americana Nancy Ann Tappe, e ganhou popularidade nos últimos anos graças à adesão do conceito por doutrinadores espiritualistas. Nancy escolheu o índigo para denominá-los pois, segundo ela, essa é a cor que emana da aura dos meninos. Uma cor até então rara, mas que vem se tornando bastante popular. Ela sugere que será deles o futuro: a nova geração, encarregada pela manutenção do planeta, maltratado pela ação do homem.

Tais crianças seriam, na verdade, a encarnação de espíritos evoluídos, vindos de outras dimensões com esse propósito salvador. Chegam aos milhões todos os anos: ela acredita que 95% dos nascidos nos últimos 20 anos têm o índigo refletido na aura. Alguns foram pioneiros e já estariam em ação: o presidente americano Barack Obama seria o mais célebre dos índigos reconhecidos por Nancy. Eles também seriam responsáveis pela criação das redes sociais que tanto marcam esse início de século 21.

O legado dos índigo está sempre associado ao desenvolvimento de grandes propósitos. São grandes facilitadores de processos, exploram tudo com criatividade e simplicidade, trazem no discurso uma franqueza desconcertante. Podem ser classificados como hiperativos ou rebeldes. A intensidade os define, o que faz com que nem sempre sejam recebidos com facilidade pelos demais. Podem apresentar dificuldades comportamentais, quando não sentem nos demais a afinidade com seus propósitos. Muitas vezes, preferem brincar sozinhos ou com adultos – sem muita paciência com os meninos da mesma idade. Além disso, questionam dogmas e regras que não lhe parecem naturais – são reis daquelas perguntinhas capazes de desconstruir a imagem de superioridade forjada pelos adultos em eventos sociais. São sui generis.

O respeito à individualidade, que deveria ser um pressuposto a todos, torna-se indispensável para a compreensão dos índigo. É consenso entre os que creem na existência dessa geração que é preciso dar atenção especial às demandas apresentadas por essas crianças. Ouvi-las para entender o que se passa em seu íntimo. O médium Divaldo Pereira Franco, autor de A Nova Geração: A visão Espírita sobre as crianças índigo e cristal (Ed. Leal) salienta que as aptidões naturais das crianças índigo precisam ter o amparo dos adultos, e não a repressão, para que elas se tornem indivíduos propensos a contribuir com a humanidade.

Independentemente de qualquer classificação espiritual, é notório que as crianças de hoje são bem diferentes das gerações que as antecederam. Acompanham, simplesmente, um mundo acelerado por tantas transformações, construídas e ansiadas por nós próprios. A adequação para esse novo padrão de comportamento exige esforço: da escola, da sociedade e principalmente dos pais. Cabe a todos nós buscar formas de atualização (no discurso e na prática) para lidar com aqueles que nos sucederão. Sem esquecer que, antes de tudo, é preciso compreendê-los.

* A coluna Outras Ondas é publicada aos domingos no blog da Revista do Correio: www.correiobraziliense.com.br

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