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Outras Ondas* – Os quatro elementos

Água, fogo, terra e ar. Para diferentes tradições filosóficas e esotéricas, esses seriam os pilares para tudo o que há no mundo. Foi o filósofo siciliano Empédocles de Agrigento que formulou, em 450 a.C, a primeira concepção de divisão do mundo em quatro elementos básicos. Eles se combinariam por relações de amor e ódio, atração e repulsa. Dessa forma, propiciam condições para o surgimento dos elementos secundários: eis o mistério da criação.

Essa divisão está carregada de um alto valor simbólico. Cada elemento traduz atributos particulares, fortemente arraigados na forma como interagimos com o mundo. Não é à toa que eles ajudam a ilustrar tipologias psicológicas e mitológicas – estruturas usadas para a compreensão do eu.

A água tem natureza feminina e está associada às emoções, a criação e à maternidade. É o elemento marcado pela plasticidade e pela passividade: adapta-se em diferentes formas, mas necessita de um receptáculo para que não se esvaia. Tem uma forte ligação com o inconsciente, sendo muitas vezes usadas por ele para representar-se em sonhos. Na tipologia junguiana, a água corresponde à função sentimento. Com ela, atribuímos valores ao que nos cerca a partir das referências prévias que temos. Rege os signos de câncer, escorpião e peixes.

No tarot, está associada principalmente ao arcano da Papisa (2), com o qual somos chamados a vislumbrar o reino interior, a sede dos nossos sentimentos. Muitas vezes, quando estamos sob a influência dessa carta, somos “inundados” por emoções ou nos damos conta do quanto negligenciamos o que se passa “por dentro”. A água também está ligada às rainhas de todos os naipes: são elas quem nos apontam como o sentimento está sendo vivido e ensinam sobre qual a melhor maneira de atribuir valor aos acontecimentos. Também está associada ao naipe de copas, que fala das nossas predisposições emocionais e do “colorido” que damos à vida.

O ar está relacionado à razão e é essencialmente masculino. Tem uma forte relação antagônica à água: é quem rege a decisão prática e pragmática. É frio e seco, mas também resoluto. Tudo isso nos leva a associá-lo com o patriarcado, quando nos apartamos do acolhimento materno e passamos a atuar de forma mais ativa no mundo. O ar nos ensina sobre o valor dos limites e do foco preciso. Jung associa o ar à função pensamento, que predomina nos indivíduos que enxergam a realidade de forma direta, objetiva, conceitual e lógica. Está relacionada a gêmeos, libra e aquário.

O naipe de espadas está intimamente ligado ao ar. É nele que se expressam os padrões arquetípicos de pensamento e ação: da relutância à precipitação, da apatia à teimosia descabida. Com as cartas de espadas, avaliamos como está a nossa capacidade de observar o mundo como em sua realidade. Talvez por isso seja interpretado por muitos como um naipe “seco”, “duro” e “doloroso” – e o é, na medida que nos ensina a viver a praticidade em vez do devaneio. O ar também está associado aos reis: os responsáveis pela decisão final, pela concretização dos planos. Nos arcanos maiores, é representado com ênfase no Imperador (4), que nos tira da égide passiva do feminino para desenvolver uma postura ativa, pautada na razão.

É a partir do elemento terra que nos conscientizamos da dimensão primitiva que nos habita. Sendo o mais concreto de todos os elementos, ele nos ensina sobre os limites e potências do corpo – da fome ao tesão, da dor à resistência. É aquele que está associado à capacidade de multiplicar e produzir. Entre as funções psicológicas, a terra se associa à sensação – aquela que nos leva a perceber o mundo a partir dos órgãos dos sentidos. Taurinos, virginianos e capricornianos sentem diretamente a influência deste elemento.

No tarot, vejo a terra na imagem da Imperatriz (arcano 3), a que nos nutre com múltiplas possibilidades e que se nutre com as riquezas do mundo. O elemento está relacionado ao naipe de ouros, que nos apresenta os a forma como lidamos com valores materiais: o corpo, o dinheiro ou o sexo. Vejo a terra presente nos cavaleiros: aqueles que trazem somados a si os desejos e instintos animais, dotados de forma física diferenciada, sempre em busca de realizações.

Para finalizar, temos o fogo. Ele é o grande elemento diferenciador na alquimia, por ter a capacidade de transformar tudo e todos que por ele são atingidos. É responsável pelo expurgo de impurezas e também pelo refino das substâncias: apura e revela a essência. É imprescindível para a manutenção da vida, fonte infinita de energia. Curiosamente, é o único elemento que só se valida na existência dos demais: não há fogo sem água, ar e terra. Na teoria junguiana, está associada à intuição, a mais incompreendida das funções psicológicas. Ela fala da percepção inata, não lógica ou temporal, que nos remete ao enxergar uma situação “do fim para o começo”. Na astrologia, rege os signos de áries, leão e sargitário.

No tarot, as cartas nutridas pelo fogo falam do entusiasmo que temos para conduzir a vida. Fala das grandes ideias, e, naturalmente, do empenho necessário para concretiza-las. O Mago (1) é uma carta que expressa bem o ideal inovador que o elemento inspira. Está associada ao naipe de paus, que rege as grandes transformações da vida, a espiritualidade e a capacidade de renovação. Também surge a partir da imagem dos pagens: o pueril, repleto de criatividade e sede de conquistas, que, apesar de um quê de irresponsabilidade, traz consigo o cerne da mudança e da renovação.

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