Self

Outras Ondas – Quando a hora se faz

O mundo é grande, o sol nasceu para todos. Em tese, todos temos potenciais e limitações. Assim sendo, poderíamos pensar que as oportunidades de realização são distribuídas de forma igualitária. E, ao que parece, verdadeiramente são. No entanto, enquanto algumas pessoas deslancham, outras permanecem estagnadas, tropeçando nos próprios pés. Algo parece separar a humanidade a partir das chances que a vida oferece.

O estigma do oportunista está associado a uma postura de excessivo egoísmo – quando alguém não mede esforços para se beneficiar ou se autoafirmar, em detrimento da liberdade e do bem estar alheio. Acho que as coisas não são bem assim. É bem verdade que “aproveitar as oportunidades” pode ser a desculpa ideal para o egoísta se realizar. Mas saber buscar e validar oportunidades não corresponde a um traço distorcido na personalidade. É justamente o contrário: desde Darwin, sabemos que sobrevivem os mais adaptáveis à própria realidade. E muito disso passa pela capacidade de enxergar saídas antes dos demais.

Muitas vezes, a falta de oportunidades é a queixa habitual para abrigar nossa inércia. E, no fundo, todos queremos uma vida suave, prazerosa e farta de boas histórias para contar – de preferência, que nos cheguem de forma gratuita, nos deixem ilesos e não atrapalhem nossos velhos costumes. Para esses, a vida sempre parece dura. Isso por pedir ação, e não reação. Oportunidades dependem de empenho. E só com empenho, dedicação e entrega que conseguimos determinar diretrizes mais sólidas para nosso destino. A perspicácia, invejada pelos ditos ingênuos, é um exercício de exposição ao risco. Como tal, desenvolve-se quando praticada.

Se não nos deparamos com a providência, devemos nos perguntar como está o olhar sobre nossos propósitos. É bem provável que a falta de perspectivas ajude a emperrar a conjectura do momento: quando estamos esvaziados de sentido, qualquer saída parece insuficiente ou inatingível. O sentimento de inadequação desmotiva para qualquer esforço. E ele é apoiado pela ausência de determinações. Precisamos deliberar sobre a própria vida, do pequeno para o grande, para que a realidade se transforme. Os efeitos desse esforço costumam ser rápidos e gratificantes: é como um veículo que, quando engrena e pega velocidade, requer apenas a perícia da administração. E, é claro, o olhar atento para perceber os melhores caminhos a percorrer – ou seja, as próximas oportunidades que devo aproveitar.

Concordo que nem todo resultado aparece no tempo em que determinamos como o ideal. Estaríamos prontos para o resultado, para o desapego da vida atual? Nossos problemas, e a ausência de alternativas para resolvê-los, estão para a âncora que o pescador usa para aportar: oferecem a estabilidade na realidade (afinal, todos precisam de problemas que validem sua existência), mas não permitem que ele se beneficie das riquezas que só se manifestam mar adentro. Impedem assim o livre fluxo para demais possibilidades. O oceano é imenso, mas é necessário ter disposição e coragem para encará-lo. Em suma, quando desejamos uma mudança, também é preciso querer se desacostumar com o que se é.

Uma boa oportunidade se faz de um diálogo pescado na fila do banco, de um telefone anotado numa contracapa de um livro, do contato com o velho amigo, de um programa de televisão que assistimos de forma descompromissada. Mas principalmente das dificuldades que o mundo (?) nos impõe. Ao olhar de perto, podemos perceber que cada problema nada mais é que a chance oferecida para uma reforma interior, para um maior comprometimento com a própria história. Conscientes disso, entendemos que a melhor hora é agora, que meu tempo é hoje e que este é o melhor lugar para ser feliz.

nivas gallo