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Psique: Existe limite para o perdão?

crédito: Metrópoles/iStock

Quantas chances uma pessoa merece? Quando um erro pode ser compreendido, quando é inadmissível? Ceder é uma atitude louvável ou uma idiotice? Limites frágeis definem valores tão subjetivos.

Nós, terapeutas, somos muitas vezes acusados de complacência. Defendemos os errados, sob o argumento da inconsciência de seus atos. Já ouvi comentários até que soam como insultos: “é fácil falar, queria ver se fosse contigo” – o mais comum.

Até certo ponto, é verdade. Não somos (ou deveríamos ser, ao menos) tão inimigos assim do erro. Mas a defesa que fazemos não é por sermos bons ou tolos. E, sim, por compreendermos que qualquer ato está ligado a uma complexa rede de acontecimentos. E que, por trás de cada gesto, há uma mensagem que tenta ser transmitida. Mesmo que da forma mais torpe.

Assim como ninguém nasce para ser um fracasso, não há nenhuma atitude planejada para dar errado. O sucesso, no entanto, derivará de uma série de fatores. Muitos deles serão incontroláveis, até ao sujeito mais minucioso.

Quando o outro comete uma falha, ele nos frustra duplamente. Não só por interromper nossos planos, mas principalmente por nos lembrar que lidamos intimamente com a possibilidade do erro. Isso justifica a dificuldade dos perfeccionistas em abonar o erro do outro.

Ao darmos outra chance a quem erra, fazemos mais que uma simples aposta no acerto. É um voto de confiança, uma forma de mostrar solidariedade à condição falível que nos atravessa a todos. É também uma atitude amorosa: capacitar o outro a refletir sobre o ocorrido, para que possa revisar atitudes e corrigir posturas.

Há um limite razoável para isso? Obviamente. Não se trata de um chamado a cegar-se diante das falhas. É necessário discernir entre uma incapacidade legítima e uma intenção maligna, pois, é fato, existem aqueles que estão impregnados por mal maior que a minha capacidade de detê-lo.

A estes, também cabe alguma misericórdia, novas chances para que possam interagir com o mundo de forma menos nociva. Mas, pergunte-se: serei eu a pessoa mais indicada e capacitada para auxilia-lo, ou é o momento de me preservar?

Uma coisa é certa: a outra chance, seja ela para quem ou o que for, só é válida quando é uma decisão madura, genuína. E não quando aparece como uma espécie de crédito para validar meus futuros erros. Muitos negociam indulgências com esses trunfos, e impedem que as relações em questão sejam maduras, honestas e profundas.

Mas estou certo de que esgotamos as possibilidades bem antes do nosso verdadeiro limite. Desistimos fácil do outro, não só por não crermos na sua capacidade de melhorar. Mas por saber que, para que o erro do outro seja superado, exige-se também uma reforma naquilo que somos. A vida não é somente uma disputa por razão.

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