Crédito: Metrópoles
O mundo se organiza de forma horizontal, invariavelmente estamos submetidos a escalas e hierarquias. Mas se tem algo justo de verdade, que nos iguala a todos, essa coisa é o tempo. Não há queixa que o acelere, nem desejo que o faça passar mais devagar. Estamos todos submetidos à implacável lei dos ponteiros.
A vida ocorre a partir de um ritmo próprio. Assim como na natureza, tudo segue um fluxo contínuo – não há saltos para marcar a transposição do tempo, tudo se dá em processo. No entanto, para dar conta do ordenamento dos acontecimentos, o homem convencionou uma divisão entre passado, presente e futuro. E é justamente a consciência de um futuro que complica as coisas.
Sempre que olhamos para frente, chamamos para perto duas companhias malditas: medo e ansiedade. O primeiro é um mal necessário à sobrevivência. Quando tememos algo que se aproxima, o que fazemos internamente é uma avaliação dos nossos recursos, para sabermos se estamos aptos para enfrentar ou fugir. Isso é instintivo, nos acompanha desde os nossos ancestrais mais remotos.
No entanto, a maior parte dos nossos medos vai além da proteção natural do instinto. Fala dos fantasmas que criamos para nos atormentar: tendemos a enxergar a vida mais complicada do que de fato é, pois nos acostumamos a medir nossa capacidade por baixo. Sempre que subestimo minha capacidade de transpor problemas, construo pontes longas e sinuosas para percorrer curtas distâncias. Medo paralisa, faz hesitar, adia decisões.
Outros, ao fantasiar sobre os fatos que se aproximam, acabam dominados por uma mescla de emoções, que compõem a ansiedade: impaciência, aflição, insegurança, precipitação. Assumem um estado de predisposição para reagir, mesmo que o momento não permita nenhum tipo de atitude.
E é justamente por isso que o quadro é tão sofrido: enquanto o objeto que deflagra o medo é delimitado, pontual, a ansiedade é difusa. Ela é como um carro de corrida com o acelerador pressionado, em frente ao ponto de partida, só que sem saber qual trajeto deve percorrer. A energia desprendida afeta intensamente a psique e o corpo. Essa é a porta para o estresse e, consequentemente, para o adoecimento.
Só sofremos tanto por esses fatores porque insistimos em querer manter um controle da situação. Não nos conformamos com a inevitável realidade: por mais que eu queira intervir no futuro, ele ocorrerá em decorrência de uma série de fatores. E grande parte deles não está sob nossa batuta.
Além disso, nos esquecemos de algo elementar: nosso amanhã será consequência do nosso hoje. Mais importante que uma prospecção bem feita é uma avaliação criteriosa do que somos agora. Confiar também faz um bem danado. Em si, nos outros, em Deus. Ter fé não é alimentar uma esperança vã de resolução instantânea dos problemas, livre de esforços. É apostar na nossa capacidade de transformação, e estar disposto a servi-la. Quando alcançamos esse estágio, tudo flui para um futuro bendito.
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