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Psique: Nossa história é definida pelos passos tomados no caminho da vida

crédito: Metrópoles/iStock

Nenhum palácio chega à ruína de uma hora para outra. Assim como nenhuma relação, carreira ou instituição. A natureza não dá saltos, e nossa vida também não. São os passos que definem o caminho assumido durante a história.

No meu trabalho, lido basicamente com queixas. Daquilo que poderia ter sido, e não foi. Do outro como embargo à felicidade. Das obrigações que forçam a ser quem não se quer. Parte de quem chega a um consultório de psicoterapia vem em busca de aliados, e não de transformação.

Grande parte dessas queixas são antigas, já ganharam lugar cativo no colo de quem as traz. Resistem ao tempo, acreditando que ele (o tempo) trará soluções. Não percebem que uma ferrugem no casco de um barco nunca irá transformá-lo num navio.

A postergação dos nossos males não é a estratégia do preguiçoso, exclusivamente. Muitos dos que adiam decisões não o fazem somente por uma passividade frente os acontecimentos. Mas por descrença, insegurança. Acham que o esforço é válido, mas não suficiente para reverter situações.

Assumem, então, o lugar dos esperançosos: aqueles que creem mais nos acontecimentos que nas realizações. E, aos poucos, recebem por baixo da porta a fatura da negligência diante da vida. E é justamente ele, o tempo, quem aparece com as cobranças.

Daí pensam: é tarde demais, as condições não são mais favoráveis. A coragem para recomeçar, a disponibilidade para aprender, os créditos para estabelecer novos vínculos, o colágeno da pele… Tudo parece ter diminuído, deixando escassas também as chances de novos empreendimentos bem-sucedidos.

Assim, sucumbem até o fim dos dias – quando a fisiologia do corpo ou a decisão do outro será capaz de resolver por si. Arrependem-se muito da primeira fumaça, do primeiro indício, da sinalização inicial. As coisas não estavam indo bem e algo precisava ser feito. “E eu não fiz”. Culpar-se não é a saída.

Você conhece a teoria da vidraça quebrada? Ela foi desenvolvida por dois pesquisadores americanos, J. Wilson e G. Kelling, e fala basicamente que desordem gera desordem.

Se deixarmos uma casa fechada, porém intacta, ela assim se manterá por bastante tempo. Quando a primeira vidraça for quebrada, o vandalismo rapidamente se instalará e, logo, a casa estará destruída.

Podemos pensar metaforicamente na teoria e na administração dos nossos problemas. É necessário repor as vidraças logo que se quebrem, para que a energia de abandono não se instale. Caso ocorra, a reparação dos danos será mais dispendiosa e desgastante.

Encarregar-se daquilo que nos inspira mal-estar é cuidar da vida. Cuidado é a palavra mais apropriada para designar a coragem para resolver um problema, encerrar uma fase – e dar início a outra. Só quem cuida de si é capaz de perceber a graça no trajeto, o significado de existir.

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