Self

Psique: Se nos afetamos pela história do outro, essa história é mais nossa que dele

Crédito: Metrópoles/iStock

Hands were a collaboration concept of teamwork

Tenho um problema, que cada vez mais tento combater: tomo para mim as brigas de quem amo. Descobri que isso é um problema aos poucos ao buscar refletir mais sobre os acontecimentos e a forma como reajo. Não que meus amigos não mereçam minha defesa. Talvez eles simplesmente não queiram, possam ou precisem.

E isso pode parecer frustrante, quando se tem essa postura de quem quer cuidar. Afinal, é o atestado de incompetência, de ingerência diante da vida do outro.

Mas, tenho aprendido, a justa medida está no esperar que a demanda venha. E saber atender apenas aquilo que, de fato, temos condição. Com simplicidade, sem grandes interpretações ou desdobramentos. Confiar que somente o outro sabe pedir o que quer.

Comecei a tomar consciência disso quando vi dois amigos passarem por situações que me afetaram muito. Um dos casos foi uma relação daquelas manipulações perversas, motivadas pela conveniência de um e pelo desejo do outro de relacionar-se. Eu ficava irado a cada nova história que sabia.

A outra situação era daquelas que chamo de “apropriação indevida de valores alheios”. Gente que se sente no direito de dispor daquilo que não é seu, como se fosse, abusando da boa vontade alheia. Sentia-me no dever de “alertar” a vítima, que sempre se comportava de forma permissiva.

Percebi que os problemas que eu avistava e que me incomodavam tanto faziam mais parte de mim que das pessoas em questão. Eles conviviam bem com tudo isso, gratificavam-se com aquilo que lhes era oferecido. Errado estava eu, em querer cobrar-lhes uma atitude à qual não estavam disponíveis.

O erro que cometi (e, às vezes, ainda cometo) é bastante comum. Difícil é nos darmos conta das razões que o motivam. Sempre que eu me afeto demais com uma história que não é minha, é porque ela reflete algo das minhas feridas. Daí partem as grandes causas que mobilizam a coletividade. Mas também muitos dissabores desnecessários do cotidiano.

Quando a dor do outro dói demais em mim, preciso entender o quanto isso espelha o meu comportamento (seja por similaridade ou oposição). Escondemo-nos no argumento da empatia, sem perceber que este nobre sentimento não costuma vir acompanhado por toda essa afetação.

Ao sermos tomados de forma muito enfática por uma temática alheia, o recomendado é desarmarmo-nos e adiar qualquer ação ou comentário – sob o risco da injustiça. Buscar dentro de si aquilo que corresponde ao mal-estar alheio. Saber do que queremos cuidar e do que carece de cuidado em nós.
Assim, temos mais chance de atravessar o caminho do outro sem excessos, em vez de usá-los para expurgar nossas próprias mazelas. Nesses casos, a adequação não vem apenas da forma, mas principalmente da medida.

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