Self

Psique: Uma mulher poderosa é aquela que acredita em si mesma

Crédito: iStock/Metrópoles

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“O olhar de uma mulher faz pouco até de Deus, mas não engana outra mulher.” Vejo verdade nos versos de Chico Buarque de Holanda. Como homem, inclusive. Coloco-me reverente ao poder infinito do feminino. E me entristeço, intimamente, com aquelas que não acessam essa fonte.

Maria, velando o filho aos pés da cruz. Yemanjá, seios fartos para alimentar filhos que não pariu. Diana, um seio a menos para facilitar a caça. Salomé, dançando pela cabeça de João Batista. Helena, a origem de uma ilíada. Roguem a estas, por favor.

Conheçam Maria Quitéria, Elza Soares, Clarice Lispector, Irmã Dulce. Stella de Oxóssi, monja Coen, Viviane Mosé. Raimunda, Ismália, Daniela, Fabíola, Mariene. De onde estou, é para elas que olho. Para ver como me veem, ou veriam. Cada uma, a seu jeito, sendo mulher do tutano do osso aos cílios – postiços ou não.

Poder nas vísceras
A ideia desse texto partiu da conversa de três homens, todos declaradamente rendidos aos atributos do feminino. Seja daqueles que vivenciamos por meio de projeções, seja daqueles que acessamos a partir do nossa ânima – a porção de mulher que habita cada homem.

Falávamos do filme “O conto dos contos”, ainda em cartaz. Nele, a história de três reis submetidos à força do sexo oposto, que lhes invadia de fora para dentro e de dentro para fora. Vale a pena assistir para sabermos como os afetos podem mobilizar o homem ao extremo, levá-los à ruína dos impérios. E também para entender a natureza visceral da mulher, a fidelidade que têm às emoções.

E é das vísceras que brota esse empoderamento que falo. A mulher é a mãe do eros, do desejo, do envolvimento, da relação, da transformação. Da capacidade de resistir, de persistir, suportar. Das artes da paciência, do cuidado. Sem o feminino, nenhuma terra é fecunda, nada vinga. Tudo fica solto, nada faz sentido.

Resgate de valor
No entanto, a vida é injusta em muitos momentos. O poderio masculino reduz tanto a mulher que, muitas vezes, elas chegam a assimilar essa ideia. Enxergam-se menores. Ressaltam incapacidades e insuficiências – além daquelas que deveriam ser particulares a qualquer ser humano, ressalto. Uma mulher subjugada a essas crenças é a coisa mais triste do mundo.

Mulher pensa, mas não pensa como homem. Homem sente, mas nunca como uma mulher. Nem mais, nem menos: diferente.

 O que faço aqui, ao escrever isso, é somente uma provocação. Não é legítimo da minha parte querer ensiná-las a serem melhores – não estou habilitado a isto, nem de fato nem de direito.Mas acompanho diariamente a batalha de mulheres que olham de baixo para cima. Que confundem a luta a enfrentar com uma sina a cumprir. Que medem por baixo as próprias capacidades, por não compreenderem o quão valorosas são. Que submetem-se ao mando tirano do masculino, explícita ou tacitamente. Que ainda priorizam agradar, em vez de agradarem-se.

Chico me ajuda muito nesse exercício. Se existe, não conheço um homem que melhor compreenda as particularidades delas. Que encarne e verbalize melhor a psique feminina. A ânima de Chico é todas. Jung também é essencial. É injusta a fama de mulherengo. Ele era “mulherólatra” (perdoem o neologismo).

Como homem, sinto-me no direito de devolvê-las a admiração. De mostrar o quanto me formam, influenciam, educam. Ressalto a necessidade da troca solidária entre elas, do fortalecimento mútuo – a dita sororidade. Aponto para as debilidades do masculino, principalmente a que nos leva a sermos aproveitadores, bobos, chantagistas, canalhas. Não por trair os meus semelhantes, mas para que fique claro que não existe um sexo frágil.

nivas gallo