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Aos 48 anos, Leonardo Vieira precisa vir a público para declarar-se homossexual. Tudo porque um galã de novelas não pode gostar de outro homem e querer relacionar-se com ele com naturalidade (com demonstrações públicas de afeto, quero dizer). Estamos em 2017, e um beijo ainda é notícia.
Este homem não teria motivos para esconder como se orienta o seu desejo. É independente, garante o próprio sustento com trabalho honesto, conduz as próprias escolhas. Diz ter recebido o apoio familiar suficiente ao seu conforto. Não tinha a quem dever tal satisfação.
Outros têm na homossexualidade uma condição fatal: morrem por serem gays. Não são suportados pela condição que lhes atravessa, como se contaminassem os acontecimentos do entorno. Ou não suportam tal situação consigo próprios: evitam a dor e a vergonha, do outro e de si, abreviando a própria existência.
Ou, pior, morrem em vida diante dos sonhos de realização de uma vida inteira. Sentem-se farsas ao negarem o que sentem ser. Carregam o peso de acreditarem terem nascido errados – como se um erro fosse. Sofrem calados piadas e comentários depreciativos, que, mesmo quando não lhe são direcionados explicitamente, atingem em cheio a ferida.
Ao observarmos a sombra na psique, vemos que nela moram as tendências e potências reprimidas pela censura do ego. Mas acho perigoso generalizar que todo comentário pejorativo contra gays, lésbicas e afins revela sempre uma homossexualidade latente não vivenciada. A meu ver, tal regra só taxa aqueles dominados pela caça frenética e obsessiva aos homossexuais.
Aos demais, parece mais pertinente entender que o incômodo vem do enxergar um ser bem resolvido. Com a própria sexualidade (seja ela qual expressão tiver), ou com a vida de forma geral. Pessoas infelizes tendem a enumerar e cultuar defeitos alheios.
Especialmente de quem não se restringe aos limites que lhe são impostos pela realidade. Quem alegra-se apesar da adversidade, celebra mesmo se desaprovados. O ser humano gosta de normas, pois nelas buscamos garantias de sucesso e realização. Estamos presos a essa fantasia de segurança.
Para quem se identifica e se submete a essa crença, é muito difícil perceber que uma realidade não normativa, como a homossexualidade, possa parecer mais satisfatória que a própria. Fica difícil de compreender. Sem maturidade, nossa tendência é a de desqualificar o que não entendemos como uma debilidade de caráter.
Não é a orientação sexual diferente que incomoda. É o sorriso.