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Disney Babble: Eu sonho, tu sonhas, ele sonha…

O canal Disney Babble elaborou uma reportagem sobre sonhos, usando minha consultoria. Ficou assim:

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Eu sonho, tu sonhas, ele sonha…

Depois de uma noite de sono, temos sempre histórias para contar. Mesmo que nem todo mundo se lembre disso

(Foto: Getty Images)
Eu sonho, tu sonhas, ele sonha...

Os sonhos sempre foram motivo de mistério e fascínio para todos. Por esse motivo, também se transformaram em objeto de investigação científica. O que se sabe é que eles são como um dispositivo para processamento de informações e emoções vivenciadas pelo indivíduo.

No entanto, o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung encontrou nos sonhos de seus pacientes uma maior abrangência de funcionalidade, como explica João Rafael Torres, psicoterapeuta e analista junguiano.

Jung concluiu que os sonhos apresentam, com fidelidade, os dinamismos psíquicos que regem o sujeito, usando para isso a linguagem simbólica. Ou seja, todo o conteúdo que se apresenta enquanto dormimos diz respeito ao funcionamento e às questões do inconsciente.

Dessa forma, transforma-se em um interessante instrumento no processo de análise, por revelar aquilo que vai além dos domínios da consciência.

Ele também ensinou que os sonhos:

– trazem sempre uma função compensatória (vão dar expressão àquilo que não podemos viver em vigília, mas também são elucidatórios);

– explicam o que está acontecendo na psique;

– são educativos (ensinam sobre as melhores atitudes a tomar

– e premonitórios: dão prognósticos do que tende a acontecer, apontando para o futuro.

 

Todos somos sonhadores?

Já é provado que todos sonham, mesmo aqueles que nunca se lembram disso. Experimentos mostram que, se privadas do sonho, as pessoas tendem a assumir uma hipersensibilidade, podendo até mesmo desencadear surtos psicóticos.

O especialista João Rafael ainda comenta que estudos anteriores associavam os sonhos apenas à fase REM (Rapid Eye Moviment) do sono, um período marcado pela intensa movimentação dos olhos, que ocorre, em geral, de 4 a 6 vezes por noite.

No entanto, hoje se sabe que há também sonhos fora desta fase. Ou seja, sonhamos muito mais do que conseguimos contabilizar pelas manhãs.

Por que não lembramos?

É fato que não recordamos de tudo devido ao ego, núcleo de administração da consciência, que é o responsável pela triagem dos conteúdos inconscientes que emergem à nossa lembrança.

Nem sempre o conteúdo mobilizado no inconsciente e apresentado no sonho é considerado adequado pelo ego, que tende a rechaçar temáticas e imagens com as quais não está disposto a lidar.

Quando algum desses “proibidos pelo ego” escapa, temos a lembrança dos pesadelos, sempre inspiradores de medo, apreensão e outras emoções não desejáveis.

Em geral, quando damos mais atenção aos nossos sonhos (anotando-os no dia seguinte, por exemplo), a lembrança das imagens costuma ficar mais nítida e constante.

Adriana Rezende nunca ligou para o que sua mãe Candida lhe contava em várias manhãs. “Ela sempre repetia que eu teria dois meninos, um com o cabelo lisinho e outro bem enroladinho. Esse sonho se repetia sempre, desde que eu era adolescente”, diz.

Candida sonhava com Adriana no casamento do irmão, correndo atrás dos dois garotos. “Nunca levei a sério, até porque não tenho tendência de gêmeos na família. Mas o que eu não esperava é que meu marido tinha e não sabia. Ou seja, não é que o sonho da minha mãe estava certo?!”

Hoje Adriana é mãe de dois meninos: Gabriel e João, de 2 anos. “Agora só falta a parte do meu irmão casar e os meninos se divertirem no casamento, como minha mãe sempre sonhou”, observa.

Preste atenção

Lidar com o sonho é uma questão de hábito: no início de processo de análise deles, a amplificação do significado das imagens fica muito a cargo de associações feitas por um analista, mas, na medida em que o tempo passa, o próprio indivíduo, analisando-os, consegue decodificar os símbolos ali apresentados.

Algumas pessoas costumam lembrar mais dos sonhos porque dão importância a eles. Outras, no entanto, não dão tanta atenção e, em alguns períodos da vida, mantêm lembranças oníricas vívidas, noite após noite.

Muito provavelmente, se investigadas, poderemos perceber que eles conciliam com períodos mais conturbados da vida, ou de maior excitação psíquica – no início de um novo projeto, numa crise relacional, após a perda de alguém querido etc.

Ou seja, o sonho aparece aí como um reforço para o processamento de grandes vivências na psique, uma vez que a vigília não permite (ou que haja algum processo de resistência do indivíduo) que impeça a assimilação de tais experiências.

De novo e de novo…

Também há pessoas que percebem que alguns sonhos se repetem. Isso acontece porque essas situações repetitivas costumam apontar para temáticas de mais importância que, por algum motivo, não ganharam a assimilação necessária pela consciência.

Funciona como uma criança que assiste diversas vezes ao mesmo filme: ela pode até já ter decorado as falas dos personagens, mas não extraiu ainda a compreensão necessária da determinada história.

Existe um significado?

“As pessoas tendem a atribuir erroneamente significados fixos aos símbolos apresentados nos sonhos”, afirma João Rafael Torres. Mas, na realidade, o processo de amplificação não se dá de forma tão simplória.

De acordo com ele, é importante buscar o significado pessoal associado às imagens que se apresentam. Por exemplo: sonhar com uma cobra pode remeter a perigos e traição para muitas pessoas, mas para um veterinário pode ter outro significado, pela relação que ele tem com o animal.

Recorrer a dicionários especializados, por exemplo, não é uma boa saída para quem quer usar os sonhos para aumentar o diálogo com o inconsciente.

O mais interessante é começar a amplificação tentando interpretar, metaforicamente, os símbolos apresentados, a partir das associações pessoais e, só então, partir para as interpretações coletivas. Nisso, o uso de dicionários de símbolos sérios pode ser útil.

Ou seja, se quer entender o que se passou durante a noite, observe os sonhos com critério individual, a partir das associações feitas com seu dia a dia.

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Clique aqui para ler a reportagem no site da Disney Babble. 

 

 

Para que serve um sonho?

Com o que você sonhou ontem? Para muitas pessoas, a resposta a essa pergunta é bem simples: não lembro ou simplesmente não sonhei. Para outro tanto, o dia ganha um sabor especial ao tentar, logo pela manhã, decifrar o sentido oculto nas imagens oníricas. Esses encontram no sonho um norteador de caminhos, um esclarecedor de mistérios ou simplesmente uma fonte de inspiração para os sonhos – agora no outro sentido da palavra, o daquilo que almejamos para a vida.

A ciência comprova que, lembrados ou não, os sonhos povoam nossa mente cada vez que atingimos um ponto de sono profundo. É o chamado estado REM (Rapid Eye Moviments), que experimentamos em média cinco vezes a cada noite dormida. A partir de exames neurológicos, pode-se perceber uma intensa atividade cerebral durante esse momento – curiosamente, “acendem-se” áreas pouco usadas durante a vigília.

No entanto, um fator não é explicado: como é feita a seleção das imagens que nos povoam enquanto sonhamos. A tentativa de desvendar esse mistério, que intriga o homem desde o início da civilização, é um dos pilares da Psicologia Analítica, criada pelo psiquiatra suíço Carl Gustav Jung. Para ele, os sonhos são fotografias fiéis do dinamismo psíquico: ou seja, a partir deles, podemos ter uma percepção clara dos afetos que nos povoam, dos complexos que nos regem e também das estruturas que carecem de desenvolvimento.

Em A natureza da psique (Ed. Vozes), Jung atribui aos sonhos cinco funções básicas. A primeira delas é a compensadora, compartilhada por Sigmund Freud. A partir dela, podemos entender os sonhos como um mecanismo psíquico para compensar desejos, frustrações e expectativas da vida, de forma a apresentar ao sonhador, por alusões, “todos aqueles pontos de vista que durante o dia foram insuficientemente considerados ou totalmente ignorados”, ensina. Dessa forma, o sonho “completa” o conteúdo que a consciência já abarca.

A segunda função é a prospectiva. O sonho oferece indicativos diferentes daqueles que a consciência, naturalmente limitada, é capaz de captar. É a parcela educativa do sonho: ele capacita para que solucionemos conflitos, amplia a visão de forma melhorada. Por outro lado, temos na função redutiva o contrário: há sonhos que surgem como elementos questionadores, cuja função é de destituir qualquer imagem já construída na consciência sobre determinado aspecto. Nas palavras de Jung: “O sonho redutor tende, antes, a desintegrar, dissolver, depreciar e mesmo destruir e demolir”. Ele acrescenta que o efeito desses sonhos não é necessariamente aniquilador, mas funciona como um questionamento diante de ideias e conceitos falaciosos. “Esse efeito é muitas vezes altamente salutar, porque afeta apenas a atitude e não a personalidade real.”

Os sonhos ainda podem funcionar como respostas reativas diante de acontecimentos da vida lúcida. Quando uma determinada experiência nos afeta de forma impactante, o inconsciente tende a repeti-la em imagens oníricas até que todo o conteúdo possa ser prontamente assimilado. Essa temática é bastante comum após vivências traumáticas. É como se assistíssemos pedaços de um mesmo filme várias vezes até compreendê-lo por inteiro.

Por último, Jung classifica a função mais controversa – e também certamente a mais curiosa – que os sonhos podem estabelecer: a telepatia. As experiências dos sonhos premonitórios, ou telepáticos, falam por si. Somente quem pôde tê-los sabe descrever o quanto eles podem inspirar em fascínio ou temor. Eles são a prova cabal para que entendamos que as fronteiras do tempo e do espaço são limitadores à consciência, e não ao inconsciente. Este, vive sob a ausência de uma linearidade de acontecimentos. A mesma lei que justifica a capacidade que temos de, em instantes, lembrarmos com nitidez de eventos ocorridos há décadas serviria para explicar os lampejos de futuro experimentados durante o sono.

Além de qualquer teoria, o olhar sobre os sonhos torna-se um poderoso instrumento de autoconhecimento e de busca pelo caminho pessoal. Observá-los com atenção, rigor e respeito (uma das funções no processo da psicoterapia junguiana) é um exercício contínuo para que possamos almejar ao amadurecimento do Ser.

Outras Ondas* – O caderno de sonhos


Sonhos. O tema é tão encantador que ocupa a humanidade há milênios: buscamos formas de entender o porquê de sonharmos todas as noites, de onde vêm as imagens e, principalmente, métodos para decifrar as mensagens embutidas em cada experiência onírica. Há um bom tempo, a ciência comprovou a importância psicofisiológica dos sonhos para o indivíduo: privados dele, somos levados literalmente à loucura. Desenvolvemos a capacidade de sonhar na vida intrauterina. Trabalhar com sonhos é uma das experiências mais gratificantes no ofício de analista. Acho, inclusive, que negligenciei a importância dos sonhos entre quem acompanha Outras Ondas: deveria ter falado sobre eles há mais tempo e, para compensar, prometo fazer novos textos sobre o assunto.

Por muito tempo, os sonhos eram vistos de uma forma dicotômica: enquanto alguns não lhe conferiam nenhuma importância, outros os valorizavam com tamanha ênfase, a ponto de beirar o fanatismo. Acreditavam que as imagens surgidas durante o sono eram um instrumento de comunicação com o invisível, um canal para a expressão de deuses, demônios, gênios e espíritos.

Os sonhos ganharam outra concepção a partir da psicanálise. Ao publicar A interpretação dos sonhos, no primeiro ano do século 20, Sigmund Freud promoveu uma importante mudança de paradigmas: o sonho aparece como uma expressão direta do inconsciente – visto por ele como a sede das repressões, recalques e experiências que não permaneceram sob o domínio da consciência. Em Freud, o sonho surge como um elemento essencialmente compensatório às frustrações da vida em vigília.

Apesar de concordar em parte com essa premissa, o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung acreditava que a função do sonho não se encerrava aí. A partir da observação dos sonhos de pacientes, ele percebeu que as vivências oníricas também podiam oferecer esclarecimentos mais claros sobre dinamismos psíquicos, além de oferecer possibilidades de encaminhamento ao tratamento terapêutico. Ao sonho também seria inerente a capacidade de indicar caminhos futuros – em alguns casos, de uma forma tão contundente e clara a pontos de enxergá-los como sonhos premonitórios.

Diferentemente do que muitos pensam, a função do analista não é de interpretar sonhos, como faziam os profetas bíblicos. Jung ensina que a melhor forma de trabalhar com o conteúdo presente nas imagens oníricas é a ampliação. No processo, tenta-se encontrar o máximo possível de associações que podem se unir ao que vem espontaneamente do inconsciente. Primeiro, a partir das associações pessoais do paciente, seguida por aquilo que é inerente à cultura vigente e, por fim, aos conteúdos arquetípicos – representações universais de valores e personagens comuns à humanidade, como a imagem da mãe, da guerra e de Deus. É a partir dessas associações que percebemos um quê mágico presente nos sonhos: eles traduzem claramente o que não conseguimos elaborar enquanto estamos despertos.

É interessante ver como até mesmo um fragmento de sonho pode ser capaz de revelar maravilhas do nosso mundo interior. Lembro por exemplo do sonho de uma cliente que, certa vez, sonhou que estava pintando os cabelos. Uma imagem tão corriqueira que ela, por pouco, não trouxe para a análise por julgá-la banal. A partir do exercício de ampliação, as associações foram dando um sentido bem maior ao sonho – capaz de fazê-lo ocupar, com destaque, toda uma sessão de análise.

Jung definiu os sonhos como “um autorretrato espontâneo, em forma simbólica, da real situação do inconsciente”. Desta forma, todo sonho é completo e correto: ele pode nos trazer o necessário para a compreensão e a avaliação do estado psíquico vigente. O grande desafio está em observar o simbolismo presente nas imagens sem tanta avidez de interpretação. É perceber, antes de tudo, que todos os elementos e personagens presentes no sonho correspondem a elementos que fazem parte do indivíduo, sem exceção.

Ao sonharmos com a vizinha fofoqueira, por exemplo, precisamos estar atentos para a projeção sombria que aí se revela: até que pontos não reprimimos em nós mesmos um quê fofoqueiro? Da mesma forma, quando sonhamos que ficamos curados ao beber água em um copo idêntico ao que víamos na casa dos avós, durante a infância, devemos ficar atentos sobre os valores familiares esquecidos não fazem falta para a solução dos problemas atuais.

A melhor forma de ganhar com os sonhos é dar atenção a eles. Uma boa dica é comprar um caderno e registrar todos que surjam a partir daí. Escreva sempre no tempo presente, como quem narra uma história, e não economize nos detalhes. Ao entender que estamos dando importância ao que produz durante o sono, o inconsciente tende a nos recompensar com símbolos mais claros e fáceis de serem decodificados – alguns parecem até ter legenda. Exercite e, tempos depois, releia os registros. Permita-se sonhar e, principalmente, aprenda com seus sonhos.

nivas gallo