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Psique: Defender-se é normal, mas não devemos nos isolar ao nos proteger

crédito: Metrópoles / iStock

Defender-se é uma atitude primordial a qualquer ser. Cada um, a seu modo, busca uma forma de continuidade frente aos predadores, visa encontrar uma forma mais confortável de vida, protegidos daquilo que pode gerar danos ou mal-estar.

Nós, humanos, também experimentamos esse instinto. Quer uma prova? Veja como um bebê reage quando nos aproximamos de seus olhos. Ainda inconsciente dos riscos, ele trata de proteger a visão – um dos principais campos de interação e absorção do meio ambiente no qual está inserido.

À medida em que desenvolvemos alguma consciência sobre nós e sobre esse entorno que nos compreende, percebemos que os possíveis agressores vão além daquilo compreendido pela percepção instintiva. Reconhecemos nossos opositores, sejam eles indivíduos ou situações. E buscamos recursos para que consigamos sobreviver a eles.

Nem sempre, no entanto, conseguimos balizar esses mecanismos de defesa de forma justa. Podemos nos armar de forma desproporcional. O motivo é básico: superestimamos as adversidades, ou simplesmente ignoramos nossas capacidades de embate. Explico.

Quando algo é marcado em nós como uma referência de perigo, registramos todo o conjunto de emoções experimentadas no momento em que fomos apresentados àquele risco e as associamos com as imagens da cena. Daí, quando nos deparamos novamente com uma situação semelhante, é acionado o gatilho de alerta.

Certos medos apreendidos na infância ajudam a exemplificar essa situação. Quando um pinscher rosna e avança em uma criança de três anos, ela paralisa com pânico. Proporcionalmente, é como se estivesse diante de um rottweiler feroz.

Já adulta, tal pessoa pode reagir de forma semelhante ao encontrar algum cachorrinho na rua. Ou seja, toda a carga afetiva mobilizada pela vivência anterior tira-lhe o senso da realidade (agora, teria plenas condições de conter o bicho em caso de ataque, sem danos).

Da mesma forma, usamos parâmetros adquiridos anteriormente para evitar situações novas que julgamos ameaçadoras: relações, conversas, rotas, inovações. Ficamos fixados na dor e sofrimento vivenciados e, referenciados nisso, associamos o novo ao perigo.

Como se não bastasse a nossa própria história, tendemos a uma apropriação dos medos alheios. Um erro crasso, uma vez que cada indivíduo assimila um fato de uma determinada forma, usando para isso as próprias referências.

Aos poucos, a vontade de evitar o sofrimento nos isola do mundo. Assim, perdemos não só a proporção das coisas, mas também a capacidade de contextualizá-las. O medo ganha proporções patológicas, e a vida acontece por detrás das muralhas por ele impostas.

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